VISÃO HOLÍSTICA.
O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo "ecológica" for empregado num sentido muito mais amplo, mais profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto individuos e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (em última análise, somos dependente desses processos).
Os dois termos "holístico" e "ecológico" diferem ligeiramente em seu significados, e parece que holístico é um pouco menos apropriado para descrever o novo paradigma. Uma visão holística, digamos, de uma bicicleta significa ver a bicicleta como um todo funcional e compreender, em conformidade com isso, as interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da bicicleta inclui isso , mas acrescenta-lhe a percepção de como a bicicleta está encaixada no seu ambiente natural e social – de onde vêm as máterias-primas que entram nela, como foi fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a comunidade pela qual ela é usada, e assim por diante. Essa distinção entre "holístico" e "ecológico" é ainda mais importante quando falamos sobre sistemas vivos, para os quais as conexões com o meio ambiente são muito mais vitais.
O sentido em que eu uso o termo "ecológico" está associado com uma escola filosófica especifica e, além disso, com um movimento popular global conhecido como "ecologia profunda", que está rapidamente adquirindo proeminência. A escola filosófica foi fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess, no início da década de 70, com sua distinção entre "ecologia rasa" e "ecologia profunda". Esta distinção é hoje amplamente aceita como um termo muito útil para se referir a uma das principais divisões dentro do pensamento ambientalista contemporâneo.
A ecologia rasa é antropocêntrica, ou centralizada no ser humano. Ela vê os seres humanos como situados acima ou fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e atribui apenas um valor instrumental, ou de "uso", à natureza. A ecologia profunda não separa seres humanos – ou qualquer outra coisa – do meio ambiente natural. Ela vê o mundo não como uma coleção de objetos isolados, mas como uma rede de fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes. A ecologia profunda reconhece o valor intrínseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos apenas como um fio particular da teia da vida.
Em última análise, a percepção da ecologia profunda é percepção espiritual ou religiosa. Quando a concepção do espírito humano é entendida como o modo de consciência no qual o indivíduo tem uma sensação de pertinência, de conexidade, com o cosmo como um todo, torna-se claro que a percepção ecológica é espiritual na sua essência mais profunda. Não é, pois, de se surpreender, o fato de que a nova visão emergente da realidade baseada na percepção ecológica profunda é consistente com a chamada filosofia perene das tradições espirituais, quer falemos a respeito da espiritualidade dos místicos cristãos, da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacente as tradições nativas norte-americanas.
Há outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a ecologia profunda. " A essência da ecologia profunda – diz ele – consiste em formular questões mais profundas". É também essa a essência de uma mudança de paradigma. Precisamos estar preparados para questionar cada aspecto isolado do velho paradigma. Eventualmente, não precisaremos nos desfazer de tudo, mas antes de sabermos isso, devemos estar dispostos a questionar tudo. Portanto, a ecologia profunda faz perguntas profundas a respeito dos próprios fundamentos da nossa visão de mundo e do nosso modo de vida modernos, científicos, industriais, orientados para o crescimento e materialistas. Ela questiona todo esse paradigma com base numa perspectiva ecológica: a partir da perspectiva de nossos relacionamentos uns com os outros, com as gerações futuras e com a teia da vida da qual somos parte.
Trecho do livro "A Teia da Vida" de Fritjof Capra.
Projeto Integrado
Visão Sistêmica
Bacharelado em Análise de Sistemas - 1º Período - Turma A
:: Equipe
Diogo Peixoto - [ diogo@databank.com.br ]
Ezequiel Coradin - [ coradin@rla13.pucpr.br ]
Rafael Gustavo Gassner - [ rgg@rla13.pucpr.br ]
:: Introdução
O objetivo deste trabalho é apresentar uma definição do que é Visão Sistêmica, suas principais características, e fatores históricos que levaram a humanidade a conceber tal forma de inter-relacionamento de sub - sistemas, bem como as conseqüências de tal forma de pensamento.
:: Definição
Para definirmos a Visão Sistêmica, precisamos primeiramente entender qual é o motivo de sua existência. Na análise de sistemas, no ponto de vista histórico, a humanidade sempre tentou entender sub-sistemas isoladamente, não levando em conta sua interação com o todo. A Visão Sistêmica veio como uma evolução natural de tal forma de pensamento, possibilitando uma maior aproximação da realidade da ciência que estuda os sistemas.
:: Histórico
Podemos indicar que historicamente, o que vem mudando na Análise de sistemas é resultado de observações das evoluções que ocorrem nos mais diversos ramos da ciência. Em um primeiro plano, as ciências, principalmente a matemática, tinham por conta que poderiam entender completamente o funcionamento do todo, caso conseguissem entender perfeitamente o funcionamento de suas partes. Tal ponto de vista sistêmico foi sendo alterado, devido à observações em ramos científicos como o da biologia, mais especificamente, nos estudos das evoluções das espécies.
A humanidade, em determinado momento histórico, precisou resolver problemas que não podiam ser entendidos isoladamente, devido à sua complexidade. Esses problemas, na maioria relacionados à questões ecológicas, levou à percepção do paradigma ao qual o pensamento da época estava ancorado, e a partir de então, aconteceu uma evolução na forma de pensamento.
A visão sistêmica portanto tem maior extensão para o entendimento de organizações complexas, que eram praticamente impossíveis se levássemos em conta o paradigma anterior. A visão sistêmica também procura entender a influência das partes entre si, e não somente cada uma isoladamente.
Partimos portanto de um ponto de vista atomista para uma posição atual que tem maior capacidade de entendimento de um todo.
:: Características
A principal característica da Visão Sistêmica é tentar estudar as partes levando em conta o seu papel na estrutura do todo. Isso implica no conceito de que o todo, resultante da junção das partes, é muito maior do que simplesmente a soma destas. Existem características existentes somente para o todo, que nao pode ser encontrado nas partes. A visão sistêmica ignifica contextualizar as partes para entender o funcionamento do todo.
Os atomistas, portanto, defendiam a tese de que se uma parte fosse completamente estudada, o seu todo poderia ser deduzido. Verificamos que tal concepção não é completamente verdadeira, pois, por exemplo, se entendermos completamente o funcionamento de uma mão, ainda assim não temos noção de todas as funcionalidade do corpo, do qual ela pertence, possui.
A visão sistêmica possui aplicação nas mais variadas áreas, tais como nos diversos ramos da ciência, mercados financeiros e até mesmo a nível de relacionamento interpessoal. Tal influência é extremamente produtiva, notadamente nas ciências exatas, que são as que possuem a maior influência histórica de pensamentos e pensadores atomistas.
:: Exemplo
Encontramos na Internet um grupo que utiliza conceitos semelhantes ao da visão sistêmica para explicar a origem da humanidade na terra. Eles entendem que nos, pessoas, não podemos ser entendidas como partes isoladas, mas sim como partes componentes de algo maior. Isso e conhecido como pensamento gaia (ver indicação na bibliografia).
:: Conclusão
A realização do trabalho nos possibilitou o maior conhecimento dos conceitos da visão sistêmica, bem como o motivo da evolução do paradigma em que a humanidade se encontrava, para a forma de pensamento atual. Pudemos perceber também que a visão sistêmica também não é aplicada somente ao campo da informática, muito pelo contrario, surgiu em outras áreas, e pode ser aplicada em praticamente qualquer campo do conhecimento humano. Cabe a nos, futuros profissionais de informática, aplica-la de forma a produzirmos sistemas que não tenham simplesmente a funcionalidade de corrigir um problema, mas sim, de otimizar processos .
:: Bibliografia
http://www.isss.org/lumLVB.htm
http://www.gaiamind.org/
http://pespmc1.vub.ac.be/
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
DAS COISAS SEM SERVENTIA UMA DELAS É A GEOGRAFIA
A Geografia é um desses negócios chatos que inventaram para se a palmatória intelectual das crianças. Não dá prazer nenhum brincar de se recipiente de nomes difíceis e ainda ter que repetir tudo certinho na hora das provas.
A tortura geográfica, comum na maioria das escolas, é um exercício constante de ver um mundo de coisas, decorar o máximo e não aprender nada. São aquelas palavras cheias nós consonantais que, vez por outra, o sujeito tem que repetir lá na frente, correndo o risco de se engasgar com uma montanha e ser motivo de deboche a semana inteira.
A utilidade que a criança vê em aprender Geografia é a mesma que tem o aquecedor do Lada, apropriado para derreter neve, no Nordeste brasileiro. No fundo, é uma violência desmedida da sociedade inteira contra a meninada que queria mesmo era brincar e fazer coisas divertidas.
Ao invés de sentar para ouvir assuntos estranhos à sua vida, talvez a criança preferisse conversar sobre sua casa com aqueles terríveis conflitos do espaço ou sobre o bairro com suas ruas plenas de lembranças, ou da cidade com os seus atrativos e desafios.
A infância para passear é uma reivindicação permanente, um outdoor estampado na testa de milhares de meninas e meninos. Botar os pés no chão e sair por aí conhecendo os lugares: andando, olhando, com admiração e medo, a loucura das construções adultas, sentido o cheiro das árvores e da fumaça das fábricas, tateando vitrines como muros impenetráveis, ouvindo o rugir dos sapatos apressados nas horas de pique das praças centrais.
Todavia, como diz Rubem Alves, a infância é uma coisa inútil, assim como tudo mais nesta sociedade da produção e do consumo, onde a criança só vale enquanto promessa de boa fortuna.
A Geografia que se aprende na escola, aparentemente inútil, tem uma utilidade ímpar porque produz uma enorme massa enorme de alienados. As pessoas não sabem que o espaço em que vivem tem um sentido que não aparece, porque detrás dos objetos sem história há histórias que desconhecemos. É que estávamos pensando no Himalaia enquanto o serviço de transporte coletivo em João Pessoa foi pensado para enriquecer os empresários e servir mal a população sem rodas.
Em uma “cidade boa para viver”, talvez não seja de bom tom usar da Geografia para perceber favelas pipocando aos quatro cantos, ou para demonstrar que é possível de um mesmo ponto da verde “Paris brasileira” – o Bar da Pólvora – admirar o pôr-do-sol e ver o lixão do Roger, ou para entender a origem dos ‘Pegas” desiguais na Epitácio Pessoa entre carros importados e carroças puxadas a burro. O mesmo espaço comporta jegues e jatos. (OLIVEIRA, 1991: 66).
As pessoas podem até não acreditar, mas a ciência geográfica tem uma utilidade que poucos conseguem ver, pois um dos papéis que cumpre é justamente o de cegar a sociedade, desde a infância, de uma leitura da produção social deste espaço cheio de contradições.
Por outro lado, como em tudo mais, o fazer científico só serve quando feito por prazer, coisa esquecida nestes tempos cabeludos em que viver, para a felicidade é quase um crime, parafraseando Brecht. A Geografia, assim como a criança, é um perigo para os homens sérios que fazem do lucro seu sentido existencial, porque no meio da brincadeira ela pode deixar muitos reis completamente nus.
Prof. Manoel Fernandes de S. Neto, UFPB.
A Geografia é um desses negócios chatos que inventaram para se a palmatória intelectual das crianças. Não dá prazer nenhum brincar de se recipiente de nomes difíceis e ainda ter que repetir tudo certinho na hora das provas.
A tortura geográfica, comum na maioria das escolas, é um exercício constante de ver um mundo de coisas, decorar o máximo e não aprender nada. São aquelas palavras cheias nós consonantais que, vez por outra, o sujeito tem que repetir lá na frente, correndo o risco de se engasgar com uma montanha e ser motivo de deboche a semana inteira.
A utilidade que a criança vê em aprender Geografia é a mesma que tem o aquecedor do Lada, apropriado para derreter neve, no Nordeste brasileiro. No fundo, é uma violência desmedida da sociedade inteira contra a meninada que queria mesmo era brincar e fazer coisas divertidas.
Ao invés de sentar para ouvir assuntos estranhos à sua vida, talvez a criança preferisse conversar sobre sua casa com aqueles terríveis conflitos do espaço ou sobre o bairro com suas ruas plenas de lembranças, ou da cidade com os seus atrativos e desafios.
A infância para passear é uma reivindicação permanente, um outdoor estampado na testa de milhares de meninas e meninos. Botar os pés no chão e sair por aí conhecendo os lugares: andando, olhando, com admiração e medo, a loucura das construções adultas, sentido o cheiro das árvores e da fumaça das fábricas, tateando vitrines como muros impenetráveis, ouvindo o rugir dos sapatos apressados nas horas de pique das praças centrais.
Todavia, como diz Rubem Alves, a infância é uma coisa inútil, assim como tudo mais nesta sociedade da produção e do consumo, onde a criança só vale enquanto promessa de boa fortuna.
A Geografia que se aprende na escola, aparentemente inútil, tem uma utilidade ímpar porque produz uma enorme massa enorme de alienados. As pessoas não sabem que o espaço em que vivem tem um sentido que não aparece, porque detrás dos objetos sem história há histórias que desconhecemos. É que estávamos pensando no Himalaia enquanto o serviço de transporte coletivo em João Pessoa foi pensado para enriquecer os empresários e servir mal a população sem rodas.
Em uma “cidade boa para viver”, talvez não seja de bom tom usar da Geografia para perceber favelas pipocando aos quatro cantos, ou para demonstrar que é possível de um mesmo ponto da verde “Paris brasileira” – o Bar da Pólvora – admirar o pôr-do-sol e ver o lixão do Roger, ou para entender a origem dos ‘Pegas” desiguais na Epitácio Pessoa entre carros importados e carroças puxadas a burro. O mesmo espaço comporta jegues e jatos. (OLIVEIRA, 1991: 66).
As pessoas podem até não acreditar, mas a ciência geográfica tem uma utilidade que poucos conseguem ver, pois um dos papéis que cumpre é justamente o de cegar a sociedade, desde a infância, de uma leitura da produção social deste espaço cheio de contradições.
Por outro lado, como em tudo mais, o fazer científico só serve quando feito por prazer, coisa esquecida nestes tempos cabeludos em que viver, para a felicidade é quase um crime, parafraseando Brecht. A Geografia, assim como a criança, é um perigo para os homens sérios que fazem do lucro seu sentido existencial, porque no meio da brincadeira ela pode deixar muitos reis completamente nus.
Prof. Manoel Fernandes de S. Neto, UFPB.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Brasil na Nova Ordem Mundial
A inserção do Brasil na "nova ordem" mundial está inexoravelmente condicionada à adequação das instituições nacionais às demandas do mercado global.
A afirmativa acima pode e deve ser estendida tão amplamente quanto possível, relativizada em todos os sentidos e problematizada extensivamente: em primeiro lugar, inserir o Brasil na "nova ordem" (e até aqui somente manterei as aspas) não significará de maneira alguma submeter uma nacionalidade (a nossa!) a outras, ou abdicar a qualquer uma, ou, no meu entender, menos ainda, priorizar esta ou aquela nacionalidade em detrimento de qualquer benefício coletivo supranacional ou internacional, no sentido geral de VELLOSO, FRITSCH et alii , dentre outro autores; em seguida, compreendo nova ordem como à situação dinâmica de transformações que o mundo passou a apresentar em sua estrutura geopolítica e megaeconômica nos períodos imediatamente antecedente e subseqüente à derrocada dos regimes socialistas no leste-europeu; neste sentido a nova ordem tem muito mais de "nova" que propriamente de "ordem", ficando o adjetivo com a mais relevante parcela semântica da expressão, pelo que se pode depreender da discussão em torno do tema ; o condicionamento da inserção a uma ordem que é mais "nova" que "ordem" propriamente, significa que esta inserção pode ou não ocorrer, que ela pode ocorrer em maior ou menor grau, que ela pode ocorrer de formas diferentes e segundo relações de forças diferentes; o passo seguinte em minha afirmativa, que menciona adequação, refere-se a toda transformação que se fizer necessária, dentro de um projeto em que se tenha um determinado tipo de inserção como meta coletiva identificada; as instituições a que me refiro são todas, o governo, os partidos, os sindicatos, as associações profissionais, ONGs de toda espécie etc.; o mercado aqui referido, por sua vez, é também compreendido no mais amplo sentido, ou seja, todas as ofertas e demandas econômicas, políticas e sociais conjugadas e interagintes; e global por considerar-se na afirmação que, em quaisquer venham a ser os modelos adotados, o componente macrodimencional das relações internacionais em todos os campos do já referido mercado, são um fator que se pode tomar como ponto passivo. Voltarei a estas questões como um pouco mais de profundidade à frente. Em artigo exaustivamente veiculado como Introdução a vários volumes de sua organização nas publicações do Fórum Nacional , o ex-Ministro Reis Velloso estabelece uma conexão necessária entre governabilidade e o alcance de um desejável grau de modernidade econômica, política e social.
Quero crer que as adequações institucionais ao mercado, a que me referi acima, sejam as mesmas que levem a estas modernidades, as mesmas capazes de gerar a governabilidade de longo prazo. Isso do ponto de vista segundo o qual as adequações em referência constituam um projeto nacional ideal ou em curso e a mencionada inserção um desiderato coletivo identificado, aspectos estes que, a partir deste ponto, passo a ter como premissa.
Governabilidade em longo prazo, em tempo histórico de longa duração, num mundo completamente interdependente, paradoxalmente submetido (ainda que provisoriamente) à hegemonia dos EUA, significaria alcançar-se uma paz universal que, se desejável do ponto de vista utópico, certamente não se entrevê, pelo menos em curto prazo, sob outra ótica. Esta governabilidade a longo prazo se aproxima muito do que tem sido chamado "fim da História" por Fukuyama e pelos que lhe seguiram os passos. Esta governabilidade em longo prazo, ou a falta de perspectiva para que ela seja alcançada é que Hobsbawn parece ter se desiludido de ver em nossos dias, por inúmeros problemas locais, alguns ligados a grupos ultranacionalistas, e outros problemas globais como o recrudescimento do xenofobismo e a própria falibilidade do liberalismo keynesiano, mesmo em sua vertente dita neoliberal, em que os países redemocratizados do leste têm se mergulhado, um tanto apressadamente (ainda segundo Hobsbawn). Ou seja, do conjunto destas opiniões: adequar as instituições às demandas do mercado global alcançando assim a governabilidade seria dar um passo na direção do fim da história, que está tão distante quanto sempre, pois a derrocada do socialismo, ao contrário de simplesmente eliminar os problemas a guerra fria, trouxe de volta antigos problemas que estavam "congelados" pelo socialismo e pela bipolarização.
Este último parágrafo propositalmente mistura as idéias dos autores construindo um paradoxo que, se apresenta uma lógica aparente, posto que frágil, não passa de um artifício meu para argumentação.
Minha tese, pelo contrário, e sou otimista confesso, é que estamos nos aproximando de um tempo em que às condições gerais serão consideravelmente melhores que as de qualquer outro período histórico para qualquer corte geográfico, e no qual os atores globais agirão de uma forma cooperativa muito mais nítida e com uma continuidade positiva no desenvolvimento desta cooperatividade. Creio que se esteja alcançando no mundo moderno um estágio no qual se perceba que a cooperação é a melhor condição de competição, e vice-versa. Voltarei a este ponto. Por enquanto pretendo apontar alguns aspectos da ordem internacional como fatores a serem vistos como determinantes para a natureza das transformações institucionais que ora estão em curso e cuja dinâmica e tendências devem ser bem compreendidas para a elaboração de qualquer projeto em longo prazo. PANORAMA INTERNACIONAL O primeiro aspecto que pretendo apontar é a questão do liberalismo e do neoliberalismo. Tomado um pelo outro, compreendido em sua forma atual como a unanimidade praticada pelo mercado global, há ainda uma série de realidades diferentes nas quais pretende-se que se pratique uma mesma doutrina (ou exerça a mesma prática) econômica; as discrepâncias entre os hemisférios Norte e Sul, ao contrário de diminuírem, vêm se recrudescendo; dentro do Brasil, a distância entre os mais pobres e os mais ricos é maior nos últimos anos, e a proporção entre uns e outros é ainda mais desigual , na maioria dos nesses a realidade não é muito melhor que aqui. Mesmo no primeiro mundo, malgrado o gigantesco esforço financeiro e gerencial dos países mais ricos, há ainda um enorme fosso entre o Oeste (principalmente os países de democracia estável desde a Segunda Guerra) e o Leste (recém advindo do socialismo). A este respeito veja-se artigo de Helmut Koln (em VELLOSO, 1993a); por outro lado, há uma pluralidade de liberalismos (enquanto movimento de idéias, enquanto origens distintas, enquanto concepções de estado) que, se ultrapassarmos o extrato comum estabelecido pela economia de mercado e pelo estado mínimo, já estaremos em tantas vertentes quantos são os autores que se dedicam ao tema . Mas também não é o aspecto da gênese ou a tipificação do liberalismo que importa aqui centralmente. O cerne da questão é se o liberalismo é viável, se é compatível com a democracia procedimental (de Bobbio, ainda) ou qualquer outra, e se será a alternativa para integrar parcelas cada vez mais abrangentes ao mercado econômico e político. O problema que se coloca para o liberalismo neste momento histórico não é o mesmo com o qual ele já se defrontou anteriormente, pois a realidade dos megamercados e da dinâmica dos fluxos de capitais por todo o planeta constituem uma novidade. E não estamos mais questionando se o liberalismo será viável aqui ou ali, ou se durante tanto ou quanto tempo, mas a questão que se apresenta é se o liberalismo é a alternativa que dará conta de regular todo o mercado global e todos os mercados globais, o político, o econômico, e o social, satisfazendo crescentemente às complexas demandas que continuamente crescem em cada um destes setores. Esta questão sobre a hegemonia do liberalismo e sua viabilidade decorre de uma outra que é não menos importante para a compreensão da ordem atual, bem como aponta seguramente caminhos pelos quais não se pretende (ou pelo menos não sei de quem mais pretenda) caminhar: o fim do "socialismo real", ou seja, sua capitulação face à economia de mercado no final dos anos 80 recoloca determinadas questões sobre a concepção de mundo no estágio em que estavam no século XIX, ao mesmo tempo em que lança o mundo no século XXI avant la letre, ainda nos anos 90. No pensamento de Hobsbawn (op.cit.) o século XX teria sido a era em torno da Revolução de Outubro. E este tempo acabou. Aliás acabou tudo, ou pelo menos Hobsbawn – malgrado sua discordância com Fukuyama – deu seu adeus a tudo aquilo, ainda que o fazendo numa direção completamente oposta à deste último. Com o colapso do socialismo acaba a ideologia (e a praxis) que em sua fundamentação e gênese preconizava a necessidade da extensão de sua abrangência a todo o planeta, por meio de ações planejadas de estado, da "exportação da revolução" etc., mas sempre por ações especificamente racionalizadas com este fim; e subsiste a ideologia que, mesmo que em alguma de suas vertentes possa ter aspirado à hegemonia, em nenhuma de suas escolas prega a essa necessidade como absoluta, e de forma alguma interferiu racionalmente neste sentido, exceto, e aqui está o ponto, por se opor passivamente (e nem sempre pacificamente) ao intervencionismo socialista. A minha visão é que o socialismo se opôs a todos os preceitos do liberalismo e atacou cada um deles, enquanto o liberalismo só se opôs a um preceito do socialismo, mas um que é tudo para ele: o seu intervencionismo. O socialismo não foi viável pela sua burocracia, pelo baixo estímulo individual no mercado direcionado, pela inflexibilidade, e por tantas causas bem conhecidas, que levaram o PIB da URSS a involuir em números relativos e absolutos a partir de meados dos anos 70, mas cujas explicações ainda estão por serem delineadas pelo conhecimento histórico. Não se desconsidere o papel da corrida armamentista neste rol de causas, mas este processo, como uma espada de dois gumes, se é inquestionavelmente uma variável a ser ponderada, feriu os dois oponentes aproximadamente no mesmo grau; apenas as capacidades de resistir ao golpe foram diferentes. Que resta ao fim do socialismo? O fim da história? Ou seja, a ausência de antagonismo, ou, em outros termos, a falta de antítese, faz cessar o processo (dialético?) da história? O mundo esteve excessivamente acostumado a transpor para todos as esferas (desde a política até a psicológica, passando pela histórica) a realidade da guerra fria, a dicotomia ideológica do mundo do século XX. No compreender dos fautores do fim da história, o homem (o tal "último homem") vai se desmotivar da competição, pelo caráter dominante da cooperação que haverá em todos os níveis, desde entre os Estados até as microesferas da relação social, e se aproximará de uma isothymia (o que é o mesmo que athymia, no meu entender) que o descaracterizará enquanto ser político. Mas por mais instigante que seja esta linha de pensamento de Fukuyama, por mais erudita e bem fundamentada, e por mais que ele defenda seu ponto de vista alegando uma compreensão histórica processualista em oposição à outra dita evenementiel, há que se ter em conta um par de questões dentre as quais a grande instabilidade que o fim do socialismo lançou no leste europeu e a questão da relativa decadência dos EUA, que inquestionavelmente fazem da situação internacional de hoje, muito menos que um oceano em plena calmaria, uma série de mares revoltos com correntes ainda desconhecidas. O fato de não se saber os rumos dos processos, o fato de que a situação atual não permite nenhum tipo válido de exercício especulativo (ao qual o historiador não é dado por vocação, diga-se de passagem) não significa em absoluto o fim da história, muito pelo contrário, a ausência de uma ordem internacional (o que no momento chamamos nova ordem) faz necessariamente que os atores ajam, ou seja, que se processem os fenômenos que são característicos da história; da história viva, da história em processo, das transformações sociais, políticas e econômicas que são características da humanidade, quer haja competição quer haja cooperação dominantemente. E, ainda que não se possa prever o que ocorrerá, pois isto é matéria alheia à ciência, certamente se pode supor sem grande risco de erro que a velocidade das transformações será ainda mais rápida que as anteriores, que os processos serão ainda mais acelerados, pois a contínua aceleração dos processos históricos ao logo da macro-história talvez seja a única lei sobre a qual haja unanimidade, ou seja, ao contrário de um "fim da história", o que se terá será mais história ainda. E o homem, ao invés de se desumanizar, se humanizará mais ainda, passando a buscar a magalothymia na competição e cooperação interagindo dialeticamente, ou em qualquer uma delas, pela busca de sua otimização
A inserção do Brasil na "nova ordem" mundial está inexoravelmente condicionada à adequação das instituições nacionais às demandas do mercado global.
A afirmativa acima pode e deve ser estendida tão amplamente quanto possível, relativizada em todos os sentidos e problematizada extensivamente: em primeiro lugar, inserir o Brasil na "nova ordem" (e até aqui somente manterei as aspas) não significará de maneira alguma submeter uma nacionalidade (a nossa!) a outras, ou abdicar a qualquer uma, ou, no meu entender, menos ainda, priorizar esta ou aquela nacionalidade em detrimento de qualquer benefício coletivo supranacional ou internacional, no sentido geral de VELLOSO, FRITSCH et alii , dentre outro autores; em seguida, compreendo nova ordem como à situação dinâmica de transformações que o mundo passou a apresentar em sua estrutura geopolítica e megaeconômica nos períodos imediatamente antecedente e subseqüente à derrocada dos regimes socialistas no leste-europeu; neste sentido a nova ordem tem muito mais de "nova" que propriamente de "ordem", ficando o adjetivo com a mais relevante parcela semântica da expressão, pelo que se pode depreender da discussão em torno do tema ; o condicionamento da inserção a uma ordem que é mais "nova" que "ordem" propriamente, significa que esta inserção pode ou não ocorrer, que ela pode ocorrer em maior ou menor grau, que ela pode ocorrer de formas diferentes e segundo relações de forças diferentes; o passo seguinte em minha afirmativa, que menciona adequação, refere-se a toda transformação que se fizer necessária, dentro de um projeto em que se tenha um determinado tipo de inserção como meta coletiva identificada; as instituições a que me refiro são todas, o governo, os partidos, os sindicatos, as associações profissionais, ONGs de toda espécie etc.; o mercado aqui referido, por sua vez, é também compreendido no mais amplo sentido, ou seja, todas as ofertas e demandas econômicas, políticas e sociais conjugadas e interagintes; e global por considerar-se na afirmação que, em quaisquer venham a ser os modelos adotados, o componente macrodimencional das relações internacionais em todos os campos do já referido mercado, são um fator que se pode tomar como ponto passivo. Voltarei a estas questões como um pouco mais de profundidade à frente. Em artigo exaustivamente veiculado como Introdução a vários volumes de sua organização nas publicações do Fórum Nacional , o ex-Ministro Reis Velloso estabelece uma conexão necessária entre governabilidade e o alcance de um desejável grau de modernidade econômica, política e social.
Quero crer que as adequações institucionais ao mercado, a que me referi acima, sejam as mesmas que levem a estas modernidades, as mesmas capazes de gerar a governabilidade de longo prazo. Isso do ponto de vista segundo o qual as adequações em referência constituam um projeto nacional ideal ou em curso e a mencionada inserção um desiderato coletivo identificado, aspectos estes que, a partir deste ponto, passo a ter como premissa.
Governabilidade em longo prazo, em tempo histórico de longa duração, num mundo completamente interdependente, paradoxalmente submetido (ainda que provisoriamente) à hegemonia dos EUA, significaria alcançar-se uma paz universal que, se desejável do ponto de vista utópico, certamente não se entrevê, pelo menos em curto prazo, sob outra ótica. Esta governabilidade a longo prazo se aproxima muito do que tem sido chamado "fim da História" por Fukuyama e pelos que lhe seguiram os passos. Esta governabilidade em longo prazo, ou a falta de perspectiva para que ela seja alcançada é que Hobsbawn parece ter se desiludido de ver em nossos dias, por inúmeros problemas locais, alguns ligados a grupos ultranacionalistas, e outros problemas globais como o recrudescimento do xenofobismo e a própria falibilidade do liberalismo keynesiano, mesmo em sua vertente dita neoliberal, em que os países redemocratizados do leste têm se mergulhado, um tanto apressadamente (ainda segundo Hobsbawn). Ou seja, do conjunto destas opiniões: adequar as instituições às demandas do mercado global alcançando assim a governabilidade seria dar um passo na direção do fim da história, que está tão distante quanto sempre, pois a derrocada do socialismo, ao contrário de simplesmente eliminar os problemas a guerra fria, trouxe de volta antigos problemas que estavam "congelados" pelo socialismo e pela bipolarização.
Este último parágrafo propositalmente mistura as idéias dos autores construindo um paradoxo que, se apresenta uma lógica aparente, posto que frágil, não passa de um artifício meu para argumentação.
Minha tese, pelo contrário, e sou otimista confesso, é que estamos nos aproximando de um tempo em que às condições gerais serão consideravelmente melhores que as de qualquer outro período histórico para qualquer corte geográfico, e no qual os atores globais agirão de uma forma cooperativa muito mais nítida e com uma continuidade positiva no desenvolvimento desta cooperatividade. Creio que se esteja alcançando no mundo moderno um estágio no qual se perceba que a cooperação é a melhor condição de competição, e vice-versa. Voltarei a este ponto. Por enquanto pretendo apontar alguns aspectos da ordem internacional como fatores a serem vistos como determinantes para a natureza das transformações institucionais que ora estão em curso e cuja dinâmica e tendências devem ser bem compreendidas para a elaboração de qualquer projeto em longo prazo. PANORAMA INTERNACIONAL O primeiro aspecto que pretendo apontar é a questão do liberalismo e do neoliberalismo. Tomado um pelo outro, compreendido em sua forma atual como a unanimidade praticada pelo mercado global, há ainda uma série de realidades diferentes nas quais pretende-se que se pratique uma mesma doutrina (ou exerça a mesma prática) econômica; as discrepâncias entre os hemisférios Norte e Sul, ao contrário de diminuírem, vêm se recrudescendo; dentro do Brasil, a distância entre os mais pobres e os mais ricos é maior nos últimos anos, e a proporção entre uns e outros é ainda mais desigual , na maioria dos nesses a realidade não é muito melhor que aqui. Mesmo no primeiro mundo, malgrado o gigantesco esforço financeiro e gerencial dos países mais ricos, há ainda um enorme fosso entre o Oeste (principalmente os países de democracia estável desde a Segunda Guerra) e o Leste (recém advindo do socialismo). A este respeito veja-se artigo de Helmut Koln (em VELLOSO, 1993a); por outro lado, há uma pluralidade de liberalismos (enquanto movimento de idéias, enquanto origens distintas, enquanto concepções de estado) que, se ultrapassarmos o extrato comum estabelecido pela economia de mercado e pelo estado mínimo, já estaremos em tantas vertentes quantos são os autores que se dedicam ao tema . Mas também não é o aspecto da gênese ou a tipificação do liberalismo que importa aqui centralmente. O cerne da questão é se o liberalismo é viável, se é compatível com a democracia procedimental (de Bobbio, ainda) ou qualquer outra, e se será a alternativa para integrar parcelas cada vez mais abrangentes ao mercado econômico e político. O problema que se coloca para o liberalismo neste momento histórico não é o mesmo com o qual ele já se defrontou anteriormente, pois a realidade dos megamercados e da dinâmica dos fluxos de capitais por todo o planeta constituem uma novidade. E não estamos mais questionando se o liberalismo será viável aqui ou ali, ou se durante tanto ou quanto tempo, mas a questão que se apresenta é se o liberalismo é a alternativa que dará conta de regular todo o mercado global e todos os mercados globais, o político, o econômico, e o social, satisfazendo crescentemente às complexas demandas que continuamente crescem em cada um destes setores. Esta questão sobre a hegemonia do liberalismo e sua viabilidade decorre de uma outra que é não menos importante para a compreensão da ordem atual, bem como aponta seguramente caminhos pelos quais não se pretende (ou pelo menos não sei de quem mais pretenda) caminhar: o fim do "socialismo real", ou seja, sua capitulação face à economia de mercado no final dos anos 80 recoloca determinadas questões sobre a concepção de mundo no estágio em que estavam no século XIX, ao mesmo tempo em que lança o mundo no século XXI avant la letre, ainda nos anos 90. No pensamento de Hobsbawn (op.cit.) o século XX teria sido a era em torno da Revolução de Outubro. E este tempo acabou. Aliás acabou tudo, ou pelo menos Hobsbawn – malgrado sua discordância com Fukuyama – deu seu adeus a tudo aquilo, ainda que o fazendo numa direção completamente oposta à deste último. Com o colapso do socialismo acaba a ideologia (e a praxis) que em sua fundamentação e gênese preconizava a necessidade da extensão de sua abrangência a todo o planeta, por meio de ações planejadas de estado, da "exportação da revolução" etc., mas sempre por ações especificamente racionalizadas com este fim; e subsiste a ideologia que, mesmo que em alguma de suas vertentes possa ter aspirado à hegemonia, em nenhuma de suas escolas prega a essa necessidade como absoluta, e de forma alguma interferiu racionalmente neste sentido, exceto, e aqui está o ponto, por se opor passivamente (e nem sempre pacificamente) ao intervencionismo socialista. A minha visão é que o socialismo se opôs a todos os preceitos do liberalismo e atacou cada um deles, enquanto o liberalismo só se opôs a um preceito do socialismo, mas um que é tudo para ele: o seu intervencionismo. O socialismo não foi viável pela sua burocracia, pelo baixo estímulo individual no mercado direcionado, pela inflexibilidade, e por tantas causas bem conhecidas, que levaram o PIB da URSS a involuir em números relativos e absolutos a partir de meados dos anos 70, mas cujas explicações ainda estão por serem delineadas pelo conhecimento histórico. Não se desconsidere o papel da corrida armamentista neste rol de causas, mas este processo, como uma espada de dois gumes, se é inquestionavelmente uma variável a ser ponderada, feriu os dois oponentes aproximadamente no mesmo grau; apenas as capacidades de resistir ao golpe foram diferentes. Que resta ao fim do socialismo? O fim da história? Ou seja, a ausência de antagonismo, ou, em outros termos, a falta de antítese, faz cessar o processo (dialético?) da história? O mundo esteve excessivamente acostumado a transpor para todos as esferas (desde a política até a psicológica, passando pela histórica) a realidade da guerra fria, a dicotomia ideológica do mundo do século XX. No compreender dos fautores do fim da história, o homem (o tal "último homem") vai se desmotivar da competição, pelo caráter dominante da cooperação que haverá em todos os níveis, desde entre os Estados até as microesferas da relação social, e se aproximará de uma isothymia (o que é o mesmo que athymia, no meu entender) que o descaracterizará enquanto ser político. Mas por mais instigante que seja esta linha de pensamento de Fukuyama, por mais erudita e bem fundamentada, e por mais que ele defenda seu ponto de vista alegando uma compreensão histórica processualista em oposição à outra dita evenementiel, há que se ter em conta um par de questões dentre as quais a grande instabilidade que o fim do socialismo lançou no leste europeu e a questão da relativa decadência dos EUA, que inquestionavelmente fazem da situação internacional de hoje, muito menos que um oceano em plena calmaria, uma série de mares revoltos com correntes ainda desconhecidas. O fato de não se saber os rumos dos processos, o fato de que a situação atual não permite nenhum tipo válido de exercício especulativo (ao qual o historiador não é dado por vocação, diga-se de passagem) não significa em absoluto o fim da história, muito pelo contrário, a ausência de uma ordem internacional (o que no momento chamamos nova ordem) faz necessariamente que os atores ajam, ou seja, que se processem os fenômenos que são característicos da história; da história viva, da história em processo, das transformações sociais, políticas e econômicas que são características da humanidade, quer haja competição quer haja cooperação dominantemente. E, ainda que não se possa prever o que ocorrerá, pois isto é matéria alheia à ciência, certamente se pode supor sem grande risco de erro que a velocidade das transformações será ainda mais rápida que as anteriores, que os processos serão ainda mais acelerados, pois a contínua aceleração dos processos históricos ao logo da macro-história talvez seja a única lei sobre a qual haja unanimidade, ou seja, ao contrário de um "fim da história", o que se terá será mais história ainda. E o homem, ao invés de se desumanizar, se humanizará mais ainda, passando a buscar a magalothymia na competição e cooperação interagindo dialeticamente, ou em qualquer uma delas, pela busca de sua otimização
A Urbanização Brasileira
Urbanização, uma tendência mundial
A população mundial, que já atingiu a cifra de 6 bilhões de habitantes, continua crescendo, embora de forma cada mais desacelerada.Esse crescimento, no entanto, não é homogêneo. Em primeiro lugar, os países de economias menos desenvolvidas são os que mais contribuem para o acréscimo de pessoas, uma vez que, nessas regiões, o crescimento vegetativo da população é maior.
Por outro lado, percebe-se que a urbanização é um fenômeno cada vez mais generalizado no mundo. Em 1960, a população urbana representava 34% da população mundial; em 1992, esse percentual saltou para 44% e estima-se que em 2025, 61,01% de toda a população mundial viva nas cidades.
O crescimento do número de pessoas que vivem nas cidades deve ser explicado, principalmente, pelo forte êxodo rural que, resulta do processo de mecanização agrícola, por problemas como a concentração fundiária e pela perspectiva de melhoria das condições de vida nas cidades. Como nas economias mais desenvolvidas esse processo já vinha acontecendo desde o século passado e já está estabilizado, é possível pensar que o crescimento urbano, nos dias atuais, seja um fenômeno característico de países mais pobres.
Industrialização, modernização da economia e urbanização no Brasil
Tecnicamente, a urbanização consiste no aumento relativo da população das cidades, acompanhada, portanto, pela redução da porcentagem dos contingentes populacionais do campo. Na maioria dos exemplos históricos, a urbanização foi precedida ou ocorreu simultaneamente com a industrialização.
No Brasil, as bases da industrialização foram lançadas na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, e a consolidação do processo deu-se nas décadas de 1950 e 1960. Dessa forma, desencadeou-se um quadro de modernização de toda a economia, que elevou as cidades à posição central na vida brasileira.
Por outro lado, a modernização também atingiu as atividades agrárias, gerando desemprego e miséria nas zonas rurais, o que levou um grande contingente populacional do campo em direção às cidades. Esse período foi marcado por intensas migrações, tanto no sentido do campo para as cidades, como, num quadro mais amplo, dos estados e regiões de economia agrária para o Sudeste industrializado.
O processo de modernização da economia brasileira, até os dias de hoje, não levou à superação da pobreza e das desigualdades sociais. A modernização aprofundou as desigualdades já existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de rendas. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje muito maior do que no início da modernização.
Os movimentos populacionais e a urbanização
O êxodo rural ou migração rural-urbana tem como causas principais a industrialização e geração de empregos nas cidades, além das transformações e problemas no campo, como a concentração fundiária, mecanização rural e mudanças nas relações de trabalho na agropecuária.
No caso brasileiro, as grandes cidades, em que pesem os problemas sociais persistentes, ofereciam condições muito vantajosas para os numerosos contingentes que para lá se deslocavam:
• empregos no setor secundário (indústria e construção civil); • rápida expansão do setor terciário, criando postos de trabalho no comércio, nos bancos, nos serviços em geral; • maiores oportunidades de lazer e entretenimento; • melhor infra-estrutura de saúde, transportes e saneamento básico.
O desenvolvimento urbano-industrial provocou uma aceleração das migrações regionais, durante os anos 1950, 1960 e 1970. O principal deslocamento populacional, que marcou esse período, ocorreu entre as regiões Nordeste e Sudeste. Milhões de pessoas transferiram-se para o eixo Rio-São Paulo, atraídas por uma inédita oferta de empregos, gerada no seio de uma rápida industrialização, o que também levou a uma urbanização caótica.
A urbanização concentradora: o processo de metropolização
Nos países desenvolvidos a urbanização reflete-se na melhoria da qualidade de vida e expansão da rede de serviços. Na América Latina, entretanto, o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos setores secundário e terciário trouxeram conseqüências como a expansão das favelas, o crescimento da economia informal e, em muitos casos, o aumento do contingente de população pobre, num processo denominado inchaço urbano.
O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanhado de problemas sociais e ambientais, tais como a falta de moradias e favelização, a carência de infra-estrutura urbana, o crescimento da economia informal, a poluição, o trânsito, periferização da população pobre e ocupação de áreas de mananciais.
Em São Paulo, por exemplo, o crescimento provocou intensa conurbação (integração física entre áreas urbanas), criando uma gigantesca área urbana que abriga 37 municípios – A Grande São Paulo. Entre eles destacam-se Guarulhos, Osasco e o chamado ABCD – Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema. Esses municípios formam a principal região industrial do país, sediando as mais dinâmicas empresas nacionais e multinacionais.
A capital paulista é a maior cidade do país e uma das maiores cidades do mundo, abrigando 9.927.838 habitantes, segundo dados de 1998 do IBGE. Seu grande desenvolvimento deu-se ,principalmente, na segunda metade do século, quando a industrialização criou um pólo de atração populacional, com rápida expansão dos setores secundário e terciário.
A cidade cresceu praticamente à revelia de um planejamento estatal urbano e seus equipamentos de infra-estrutura, moradia e transportes não atendem às demandas sociais. Isso não reduz a importância econômica, política e social de São Paulo que, embora viva hoje um processo de fuga de indústrias, continua assumindo uma vocação de pólo financeiro, comercial e de serviços, em geral. São Paulo é a metrópole global brasileira, onde está sediado o comando das principais atividades econômicas do país.
Hierarquia urbana
A economia agrário-exportadora das primeiras décadas do século XX caracterizava o Brasil como um “país-arquipélago”. Em outras palavras, não havia uma articulação consistente entre as economias das regiões do país, isoladas pela carência de transportes e comunicações e com funções econômicas que não se integravam plenamente.
O processo de industrialização e urbanização foi o elemento fundamental na integração regional. O Sudeste, liderado pelas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, passa a comandar e ser o coração de uma economia cada vez mais integrada. O desenvolvimento das telecomunicações e a expansão da malha rodoviária possibilitaram um incremento no fluxo de mercadorias, pessoas e serviços, integrando a Amazônia, o Centro-Oeste e as áreas mais pobres do Nordeste, com o Sudeste e o Sul.
Com o campo cada vez mais dependente das cidades, paulatinamente vai se formando em todo o território uma hierarquia urbana, uma rede integrada de funções econômicas, políticas e de relações sociais entre as cidades brasileiras. Veja alguns exemplos de áreas urbanas e suas posições na hierarquia que se formou (há variações de nomenclatura, de acordo com cada autor):
Metrópoles Nacionais – regiões metropolitanas (conjunto de municípios interligados a uma grande cidade) que exercem influência em todo o país: Grande Rio e Grande São Paulo;
Metrópoles Regionais – regiões metropolitanas que influenciam uma região do país: Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Belém, etc;
Pólos (ou centros) regionais – cidades que influenciam as áreas urbanas vizinhas: Florianópolis (SC), Santos(SP), Vitória (ES), Campina Grande(PB), etc;
Centros locais – cidades de menor importância.
Da metrópole nacional à cidade global
O processo de globalização da economia internacional colocou outros parâmetros para as grandes metrópoles mundiais. O aperfeiçoamento dos transportes, a rapidez das comunicações, possibilitada pela telefonia móvel, pelo fax e pela internet, provocaram uma integração das cidades em níveis muito mais amplos.
As principais metrópoles, dotadas de melhor infra-estrutura de serviços, transportes e comunicações, tornaram-se centros geográficos privilegiados, de onde as empresas transnacionais comandam toda sorte de transações materiais e virtuais. Ou seja, formaram-se laços muito estreitos entre as empresas mais dinâmicas e esses grandes espaços urbanizados, integrados às redes mundiais.
Nesse contexto, os novos estudos sobre a urbanização têm gerado novas nomenclaturas e classificações, aperfeiçoando o conhecimento das cidades brasileiras.
Dessa forma, atualmente, São Paulo e Rio de Janeiro podem ser consideradas metrópoles globais; as áreas metropolitanas de capitais importantes como Porto Alegre, Brasília, Salvador ou Curitiba formam as metrópoles nacionais; e, dentro dessa nova hierarquia urbana, existem ainda metrópoles regionais, como Goiânia e Campinas; centros regionais, como Manaus e Natal, além de cidades caracterizadas como centros sub-regionais (Santarém, no Pará, e Piracicaba, em São Paulo, por exemplo).
A industrialização tornou os centros urbanos responsáveis pela maior parte da produção nacional (estima-se em mais de 90%). Mesmo as atividades geradas no ambiente rural, como a agricultura e a pecuária, dependem fortemente de produtos, tecnologia, crédito e serviços fornecidos pelas cidades.
A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência de urbanização no Brasil, que pode ser caracterizada como uma desmetropolitização. Ou seja, uma reversão no crescimento das grandes metrópoles, em favor de cidades médias, onde os custos de produção são menores e as condições de vida tendem a ser melhores.
Indústrias e empresas ligadas ao setor de serviços realizam cada vez mais a escolha de localizações geográficas alternativas às saturadas metrópoles do Centro-Sul. Cidades como Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto, Goiânia, Florianópolis, além de diversas capitais nordestinas estão entrando definitivamente no mapa das empresas nacionais e estrangeiras.
Urbanização, uma tendência mundial
A população mundial, que já atingiu a cifra de 6 bilhões de habitantes, continua crescendo, embora de forma cada mais desacelerada.Esse crescimento, no entanto, não é homogêneo. Em primeiro lugar, os países de economias menos desenvolvidas são os que mais contribuem para o acréscimo de pessoas, uma vez que, nessas regiões, o crescimento vegetativo da população é maior.
Por outro lado, percebe-se que a urbanização é um fenômeno cada vez mais generalizado no mundo. Em 1960, a população urbana representava 34% da população mundial; em 1992, esse percentual saltou para 44% e estima-se que em 2025, 61,01% de toda a população mundial viva nas cidades.
O crescimento do número de pessoas que vivem nas cidades deve ser explicado, principalmente, pelo forte êxodo rural que, resulta do processo de mecanização agrícola, por problemas como a concentração fundiária e pela perspectiva de melhoria das condições de vida nas cidades. Como nas economias mais desenvolvidas esse processo já vinha acontecendo desde o século passado e já está estabilizado, é possível pensar que o crescimento urbano, nos dias atuais, seja um fenômeno característico de países mais pobres.
Industrialização, modernização da economia e urbanização no Brasil
Tecnicamente, a urbanização consiste no aumento relativo da população das cidades, acompanhada, portanto, pela redução da porcentagem dos contingentes populacionais do campo. Na maioria dos exemplos históricos, a urbanização foi precedida ou ocorreu simultaneamente com a industrialização.
No Brasil, as bases da industrialização foram lançadas na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, e a consolidação do processo deu-se nas décadas de 1950 e 1960. Dessa forma, desencadeou-se um quadro de modernização de toda a economia, que elevou as cidades à posição central na vida brasileira.
Por outro lado, a modernização também atingiu as atividades agrárias, gerando desemprego e miséria nas zonas rurais, o que levou um grande contingente populacional do campo em direção às cidades. Esse período foi marcado por intensas migrações, tanto no sentido do campo para as cidades, como, num quadro mais amplo, dos estados e regiões de economia agrária para o Sudeste industrializado.
O processo de modernização da economia brasileira, até os dias de hoje, não levou à superação da pobreza e das desigualdades sociais. A modernização aprofundou as desigualdades já existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de rendas. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje muito maior do que no início da modernização.
Os movimentos populacionais e a urbanização
O êxodo rural ou migração rural-urbana tem como causas principais a industrialização e geração de empregos nas cidades, além das transformações e problemas no campo, como a concentração fundiária, mecanização rural e mudanças nas relações de trabalho na agropecuária.
No caso brasileiro, as grandes cidades, em que pesem os problemas sociais persistentes, ofereciam condições muito vantajosas para os numerosos contingentes que para lá se deslocavam:
• empregos no setor secundário (indústria e construção civil); • rápida expansão do setor terciário, criando postos de trabalho no comércio, nos bancos, nos serviços em geral; • maiores oportunidades de lazer e entretenimento; • melhor infra-estrutura de saúde, transportes e saneamento básico.
O desenvolvimento urbano-industrial provocou uma aceleração das migrações regionais, durante os anos 1950, 1960 e 1970. O principal deslocamento populacional, que marcou esse período, ocorreu entre as regiões Nordeste e Sudeste. Milhões de pessoas transferiram-se para o eixo Rio-São Paulo, atraídas por uma inédita oferta de empregos, gerada no seio de uma rápida industrialização, o que também levou a uma urbanização caótica.
A urbanização concentradora: o processo de metropolização
Nos países desenvolvidos a urbanização reflete-se na melhoria da qualidade de vida e expansão da rede de serviços. Na América Latina, entretanto, o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos setores secundário e terciário trouxeram conseqüências como a expansão das favelas, o crescimento da economia informal e, em muitos casos, o aumento do contingente de população pobre, num processo denominado inchaço urbano.
O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanhado de problemas sociais e ambientais, tais como a falta de moradias e favelização, a carência de infra-estrutura urbana, o crescimento da economia informal, a poluição, o trânsito, periferização da população pobre e ocupação de áreas de mananciais.
Em São Paulo, por exemplo, o crescimento provocou intensa conurbação (integração física entre áreas urbanas), criando uma gigantesca área urbana que abriga 37 municípios – A Grande São Paulo. Entre eles destacam-se Guarulhos, Osasco e o chamado ABCD – Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema. Esses municípios formam a principal região industrial do país, sediando as mais dinâmicas empresas nacionais e multinacionais.
A capital paulista é a maior cidade do país e uma das maiores cidades do mundo, abrigando 9.927.838 habitantes, segundo dados de 1998 do IBGE. Seu grande desenvolvimento deu-se ,principalmente, na segunda metade do século, quando a industrialização criou um pólo de atração populacional, com rápida expansão dos setores secundário e terciário.
A cidade cresceu praticamente à revelia de um planejamento estatal urbano e seus equipamentos de infra-estrutura, moradia e transportes não atendem às demandas sociais. Isso não reduz a importância econômica, política e social de São Paulo que, embora viva hoje um processo de fuga de indústrias, continua assumindo uma vocação de pólo financeiro, comercial e de serviços, em geral. São Paulo é a metrópole global brasileira, onde está sediado o comando das principais atividades econômicas do país.
Hierarquia urbana
A economia agrário-exportadora das primeiras décadas do século XX caracterizava o Brasil como um “país-arquipélago”. Em outras palavras, não havia uma articulação consistente entre as economias das regiões do país, isoladas pela carência de transportes e comunicações e com funções econômicas que não se integravam plenamente.
O processo de industrialização e urbanização foi o elemento fundamental na integração regional. O Sudeste, liderado pelas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, passa a comandar e ser o coração de uma economia cada vez mais integrada. O desenvolvimento das telecomunicações e a expansão da malha rodoviária possibilitaram um incremento no fluxo de mercadorias, pessoas e serviços, integrando a Amazônia, o Centro-Oeste e as áreas mais pobres do Nordeste, com o Sudeste e o Sul.
Com o campo cada vez mais dependente das cidades, paulatinamente vai se formando em todo o território uma hierarquia urbana, uma rede integrada de funções econômicas, políticas e de relações sociais entre as cidades brasileiras. Veja alguns exemplos de áreas urbanas e suas posições na hierarquia que se formou (há variações de nomenclatura, de acordo com cada autor):
Metrópoles Nacionais – regiões metropolitanas (conjunto de municípios interligados a uma grande cidade) que exercem influência em todo o país: Grande Rio e Grande São Paulo;
Metrópoles Regionais – regiões metropolitanas que influenciam uma região do país: Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Belém, etc;
Pólos (ou centros) regionais – cidades que influenciam as áreas urbanas vizinhas: Florianópolis (SC), Santos(SP), Vitória (ES), Campina Grande(PB), etc;
Centros locais – cidades de menor importância.
Da metrópole nacional à cidade global
O processo de globalização da economia internacional colocou outros parâmetros para as grandes metrópoles mundiais. O aperfeiçoamento dos transportes, a rapidez das comunicações, possibilitada pela telefonia móvel, pelo fax e pela internet, provocaram uma integração das cidades em níveis muito mais amplos.
As principais metrópoles, dotadas de melhor infra-estrutura de serviços, transportes e comunicações, tornaram-se centros geográficos privilegiados, de onde as empresas transnacionais comandam toda sorte de transações materiais e virtuais. Ou seja, formaram-se laços muito estreitos entre as empresas mais dinâmicas e esses grandes espaços urbanizados, integrados às redes mundiais.
Nesse contexto, os novos estudos sobre a urbanização têm gerado novas nomenclaturas e classificações, aperfeiçoando o conhecimento das cidades brasileiras.
Dessa forma, atualmente, São Paulo e Rio de Janeiro podem ser consideradas metrópoles globais; as áreas metropolitanas de capitais importantes como Porto Alegre, Brasília, Salvador ou Curitiba formam as metrópoles nacionais; e, dentro dessa nova hierarquia urbana, existem ainda metrópoles regionais, como Goiânia e Campinas; centros regionais, como Manaus e Natal, além de cidades caracterizadas como centros sub-regionais (Santarém, no Pará, e Piracicaba, em São Paulo, por exemplo).
A industrialização tornou os centros urbanos responsáveis pela maior parte da produção nacional (estima-se em mais de 90%). Mesmo as atividades geradas no ambiente rural, como a agricultura e a pecuária, dependem fortemente de produtos, tecnologia, crédito e serviços fornecidos pelas cidades.
A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência de urbanização no Brasil, que pode ser caracterizada como uma desmetropolitização. Ou seja, uma reversão no crescimento das grandes metrópoles, em favor de cidades médias, onde os custos de produção são menores e as condições de vida tendem a ser melhores.
Indústrias e empresas ligadas ao setor de serviços realizam cada vez mais a escolha de localizações geográficas alternativas às saturadas metrópoles do Centro-Sul. Cidades como Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto, Goiânia, Florianópolis, além de diversas capitais nordestinas estão entrando definitivamente no mapa das empresas nacionais e estrangeiras.
A Urbanização Brasileira
Urbanização, uma tendência mundial
A população mundial, que já atingiu a cifra de 6 bilhões de habitantes, continua crescendo, embora de forma cada mais desacelerada.Esse crescimento, no entanto, não é homogêneo. Em primeiro lugar, os países de economias menos desenvolvidas são os que mais contribuem para o acréscimo de pessoas, uma vez que, nessas regiões, o crescimento vegetativo da população é maior.
Por outro lado, percebe-se que a urbanização é um fenômeno cada vez mais generalizado no mundo. Em 1960, a população urbana representava 34% da população mundial; em 1992, esse percentual saltou para 44% e estima-se que em 2025, 61,01% de toda a população mundial viva nas cidades.
O crescimento do número de pessoas que vivem nas cidades deve ser explicado, principalmente, pelo forte êxodo rural que, resulta do processo de mecanização agrícola, por problemas como a concentração fundiária e pela perspectiva de melhoria das condições de vida nas cidades. Como nas economias mais desenvolvidas esse processo já vinha acontecendo desde o século passado e já está estabilizado, é possível pensar que o crescimento urbano, nos dias atuais, seja um fenômeno característico de países mais pobres.
Industrialização, modernização da economia e urbanização no Brasil
Tecnicamente, a urbanização consiste no aumento relativo da população das cidades, acompanhada, portanto, pela redução da porcentagem dos contingentes populacionais do campo. Na maioria dos exemplos históricos, a urbanização foi precedida ou ocorreu simultaneamente com a industrialização.
No Brasil, as bases da industrialização foram lançadas na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, e a consolidação do processo deu-se nas décadas de 1950 e 1960. Dessa forma, desencadeou-se um quadro de modernização de toda a economia, que elevou as cidades à posição central na vida brasileira.
Por outro lado, a modernização também atingiu as atividades agrárias, gerando desemprego e miséria nas zonas rurais, o que levou um grande contingente populacional do campo em direção às cidades. Esse período foi marcado por intensas migrações, tanto no sentido do campo para as cidades, como, num quadro mais amplo, dos estados e regiões de economia agrária para o Sudeste industrializado.
O processo de modernização da economia brasileira, até os dias de hoje, não levou à superação da pobreza e das desigualdades sociais. A modernização aprofundou as desigualdades já existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de rendas. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje muito maior do que no início da modernização.
Os movimentos populacionais e a urbanização
O êxodo rural ou migração rural-urbana tem como causas principais a industrialização e geração de empregos nas cidades, além das transformações e problemas no campo, como a concentração fundiária, mecanização rural e mudanças nas relações de trabalho na agropecuária.
No caso brasileiro, as grandes cidades, em que pesem os problemas sociais persistentes, ofereciam condições muito vantajosas para os numerosos contingentes que para lá se deslocavam:
• empregos no setor secundário (indústria e construção civil); • rápida expansão do setor terciário, criando postos de trabalho no comércio, nos bancos, nos serviços em geral; • maiores oportunidades de lazer e entretenimento; • melhor infra-estrutura de saúde, transportes e saneamento básico.
O desenvolvimento urbano-industrial provocou uma aceleração das migrações regionais, durante os anos 1950, 1960 e 1970. O principal deslocamento populacional, que marcou esse período, ocorreu entre as regiões Nordeste e Sudeste. Milhões de pessoas transferiram-se para o eixo Rio-São Paulo, atraídas por uma inédita oferta de empregos, gerada no seio de uma rápida industrialização, o que também levou a uma urbanização caótica.
A urbanização concentradora: o processo de metropolização
Nos países desenvolvidos a urbanização reflete-se na melhoria da qualidade de vida e expansão da rede de serviços. Na América Latina, entretanto, o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos setores secundário e terciário trouxeram conseqüências como a expansão das favelas, o crescimento da economia informal e, em muitos casos, o aumento do contingente de população pobre, num processo denominado inchaço urbano.
O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanhado de problemas sociais e ambientais, tais como a falta de moradias e favelização, a carência de infra-estrutura urbana, o crescimento da economia informal, a poluição, o trânsito, periferização da população pobre e ocupação de áreas de mananciais.
Em São Paulo, por exemplo, o crescimento provocou intensa conurbação (integração física entre áreas urbanas), criando uma gigantesca área urbana que abriga 37 municípios – A Grande São Paulo. Entre eles destacam-se Guarulhos, Osasco e o chamado ABCD – Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema. Esses municípios formam a principal região industrial do país, sediando as mais dinâmicas empresas nacionais e multinacionais.
A capital paulista é a maior cidade do país e uma das maiores cidades do mundo, abrigando 9.927.838 habitantes, segundo dados de 1998 do IBGE. Seu grande desenvolvimento deu-se ,principalmente, na segunda metade do século, quando a industrialização criou um pólo de atração populacional, com rápida expansão dos setores secundário e terciário.
A cidade cresceu praticamente à revelia de um planejamento estatal urbano e seus equipamentos de infra-estrutura, moradia e transportes não atendem às demandas sociais. Isso não reduz a importância econômica, política e social de São Paulo que, embora viva hoje um processo de fuga de indústrias, continua assumindo uma vocação de pólo financeiro, comercial e de serviços, em geral. São Paulo é a metrópole global brasileira, onde está sediado o comando das principais atividades econômicas do país.
Hierarquia urbana
A economia agrário-exportadora das primeiras décadas do século XX caracterizava o Brasil como um “país-arquipélago”. Em outras palavras, não havia uma articulação consistente entre as economias das regiões do país, isoladas pela carência de transportes e comunicações e com funções econômicas que não se integravam plenamente.
O processo de industrialização e urbanização foi o elemento fundamental na integração regional. O Sudeste, liderado pelas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, passa a comandar e ser o coração de uma economia cada vez mais integrada. O desenvolvimento das telecomunicações e a expansão da malha rodoviária possibilitaram um incremento no fluxo de mercadorias, pessoas e serviços, integrando a Amazônia, o Centro-Oeste e as áreas mais pobres do Nordeste, com o Sudeste e o Sul.
Com o campo cada vez mais dependente das cidades, paulatinamente vai se formando em todo o território uma hierarquia urbana, uma rede integrada de funções econômicas, políticas e de relações sociais entre as cidades brasileiras. Veja alguns exemplos de áreas urbanas e suas posições na hierarquia que se formou (há variações de nomenclatura, de acordo com cada autor):
Metrópoles Nacionais – regiões metropolitanas (conjunto de municípios interligados a uma grande cidade) que exercem influência em todo o país: Grande Rio e Grande São Paulo;
Metrópoles Regionais – regiões metropolitanas que influenciam uma região do país: Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Belém, etc;
Pólos (ou centros) regionais – cidades que influenciam as áreas urbanas vizinhas: Florianópolis (SC), Santos(SP), Vitória (ES), Campina Grande(PB), etc;
Centros locais – cidades de menor importância.
Da metrópole nacional à cidade global
O processo de globalização da economia internacional colocou outros parâmetros para as grandes metrópoles mundiais. O aperfeiçoamento dos transportes, a rapidez das comunicações, possibilitada pela telefonia móvel, pelo fax e pela internet, provocaram uma integração das cidades em níveis muito mais amplos.
As principais metrópoles, dotadas de melhor infra-estrutura de serviços, transportes e comunicações, tornaram-se centros geográficos privilegiados, de onde as empresas transnacionais comandam toda sorte de transações materiais e virtuais. Ou seja, formaram-se laços muito estreitos entre as empresas mais dinâmicas e esses grandes espaços urbanizados, integrados às redes mundiais.
Nesse contexto, os novos estudos sobre a urbanização têm gerado novas nomenclaturas e classificações, aperfeiçoando o conhecimento das cidades brasileiras.
Dessa forma, atualmente, São Paulo e Rio de Janeiro podem ser consideradas metrópoles globais; as áreas metropolitanas de capitais importantes como Porto Alegre, Brasília, Salvador ou Curitiba formam as metrópoles nacionais; e, dentro dessa nova hierarquia urbana, existem ainda metrópoles regionais, como Goiânia e Campinas; centros regionais, como Manaus e Natal, além de cidades caracterizadas como centros sub-regionais (Santarém, no Pará, e Piracicaba, em São Paulo, por exemplo).
A industrialização tornou os centros urbanos responsáveis pela maior parte da produção nacional (estima-se em mais de 90%). Mesmo as atividades geradas no ambiente rural, como a agricultura e a pecuária, dependem fortemente de produtos, tecnologia, crédito e serviços fornecidos pelas cidades.
A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência de urbanização no Brasil, que pode ser caracterizada como uma desmetropolitização. Ou seja, uma reversão no crescimento das grandes metrópoles, em favor de cidades médias, onde os custos de produção são menores e as condições de vida tendem a ser melhores.
Indústrias e empresas ligadas ao setor de serviços realizam cada vez mais a escolha de localizações geográficas alternativas às saturadas metrópoles do Centro-Sul. Cidades como Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto, Goiânia, Florianópolis, além de diversas capitais nordestinas estão entrando definitivamente no mapa das empresas nacionais e estrangeiras.
Urbanização, uma tendência mundial
A população mundial, que já atingiu a cifra de 6 bilhões de habitantes, continua crescendo, embora de forma cada mais desacelerada.Esse crescimento, no entanto, não é homogêneo. Em primeiro lugar, os países de economias menos desenvolvidas são os que mais contribuem para o acréscimo de pessoas, uma vez que, nessas regiões, o crescimento vegetativo da população é maior.
Por outro lado, percebe-se que a urbanização é um fenômeno cada vez mais generalizado no mundo. Em 1960, a população urbana representava 34% da população mundial; em 1992, esse percentual saltou para 44% e estima-se que em 2025, 61,01% de toda a população mundial viva nas cidades.
O crescimento do número de pessoas que vivem nas cidades deve ser explicado, principalmente, pelo forte êxodo rural que, resulta do processo de mecanização agrícola, por problemas como a concentração fundiária e pela perspectiva de melhoria das condições de vida nas cidades. Como nas economias mais desenvolvidas esse processo já vinha acontecendo desde o século passado e já está estabilizado, é possível pensar que o crescimento urbano, nos dias atuais, seja um fenômeno característico de países mais pobres.
Industrialização, modernização da economia e urbanização no Brasil
Tecnicamente, a urbanização consiste no aumento relativo da população das cidades, acompanhada, portanto, pela redução da porcentagem dos contingentes populacionais do campo. Na maioria dos exemplos históricos, a urbanização foi precedida ou ocorreu simultaneamente com a industrialização.
No Brasil, as bases da industrialização foram lançadas na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas, e a consolidação do processo deu-se nas décadas de 1950 e 1960. Dessa forma, desencadeou-se um quadro de modernização de toda a economia, que elevou as cidades à posição central na vida brasileira.
Por outro lado, a modernização também atingiu as atividades agrárias, gerando desemprego e miséria nas zonas rurais, o que levou um grande contingente populacional do campo em direção às cidades. Esse período foi marcado por intensas migrações, tanto no sentido do campo para as cidades, como, num quadro mais amplo, dos estados e regiões de economia agrária para o Sudeste industrializado.
O processo de modernização da economia brasileira, até os dias de hoje, não levou à superação da pobreza e das desigualdades sociais. A modernização aprofundou as desigualdades já existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de rendas. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje muito maior do que no início da modernização.
Os movimentos populacionais e a urbanização
O êxodo rural ou migração rural-urbana tem como causas principais a industrialização e geração de empregos nas cidades, além das transformações e problemas no campo, como a concentração fundiária, mecanização rural e mudanças nas relações de trabalho na agropecuária.
No caso brasileiro, as grandes cidades, em que pesem os problemas sociais persistentes, ofereciam condições muito vantajosas para os numerosos contingentes que para lá se deslocavam:
• empregos no setor secundário (indústria e construção civil); • rápida expansão do setor terciário, criando postos de trabalho no comércio, nos bancos, nos serviços em geral; • maiores oportunidades de lazer e entretenimento; • melhor infra-estrutura de saúde, transportes e saneamento básico.
O desenvolvimento urbano-industrial provocou uma aceleração das migrações regionais, durante os anos 1950, 1960 e 1970. O principal deslocamento populacional, que marcou esse período, ocorreu entre as regiões Nordeste e Sudeste. Milhões de pessoas transferiram-se para o eixo Rio-São Paulo, atraídas por uma inédita oferta de empregos, gerada no seio de uma rápida industrialização, o que também levou a uma urbanização caótica.
A urbanização concentradora: o processo de metropolização
Nos países desenvolvidos a urbanização reflete-se na melhoria da qualidade de vida e expansão da rede de serviços. Na América Latina, entretanto, o intenso êxodo rural e a carência de empregos nos setores secundário e terciário trouxeram conseqüências como a expansão das favelas, o crescimento da economia informal e, em muitos casos, o aumento do contingente de população pobre, num processo denominado inchaço urbano.
O desenvolvimento metropolitano veio, portanto, acompanhado de problemas sociais e ambientais, tais como a falta de moradias e favelização, a carência de infra-estrutura urbana, o crescimento da economia informal, a poluição, o trânsito, periferização da população pobre e ocupação de áreas de mananciais.
Em São Paulo, por exemplo, o crescimento provocou intensa conurbação (integração física entre áreas urbanas), criando uma gigantesca área urbana que abriga 37 municípios – A Grande São Paulo. Entre eles destacam-se Guarulhos, Osasco e o chamado ABCD – Santo André, São Bernardo, São Caetano do Sul e Diadema. Esses municípios formam a principal região industrial do país, sediando as mais dinâmicas empresas nacionais e multinacionais.
A capital paulista é a maior cidade do país e uma das maiores cidades do mundo, abrigando 9.927.838 habitantes, segundo dados de 1998 do IBGE. Seu grande desenvolvimento deu-se ,principalmente, na segunda metade do século, quando a industrialização criou um pólo de atração populacional, com rápida expansão dos setores secundário e terciário.
A cidade cresceu praticamente à revelia de um planejamento estatal urbano e seus equipamentos de infra-estrutura, moradia e transportes não atendem às demandas sociais. Isso não reduz a importância econômica, política e social de São Paulo que, embora viva hoje um processo de fuga de indústrias, continua assumindo uma vocação de pólo financeiro, comercial e de serviços, em geral. São Paulo é a metrópole global brasileira, onde está sediado o comando das principais atividades econômicas do país.
Hierarquia urbana
A economia agrário-exportadora das primeiras décadas do século XX caracterizava o Brasil como um “país-arquipélago”. Em outras palavras, não havia uma articulação consistente entre as economias das regiões do país, isoladas pela carência de transportes e comunicações e com funções econômicas que não se integravam plenamente.
O processo de industrialização e urbanização foi o elemento fundamental na integração regional. O Sudeste, liderado pelas áreas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro, passa a comandar e ser o coração de uma economia cada vez mais integrada. O desenvolvimento das telecomunicações e a expansão da malha rodoviária possibilitaram um incremento no fluxo de mercadorias, pessoas e serviços, integrando a Amazônia, o Centro-Oeste e as áreas mais pobres do Nordeste, com o Sudeste e o Sul.
Com o campo cada vez mais dependente das cidades, paulatinamente vai se formando em todo o território uma hierarquia urbana, uma rede integrada de funções econômicas, políticas e de relações sociais entre as cidades brasileiras. Veja alguns exemplos de áreas urbanas e suas posições na hierarquia que se formou (há variações de nomenclatura, de acordo com cada autor):
Metrópoles Nacionais – regiões metropolitanas (conjunto de municípios interligados a uma grande cidade) que exercem influência em todo o país: Grande Rio e Grande São Paulo;
Metrópoles Regionais – regiões metropolitanas que influenciam uma região do país: Grande Porto Alegre, Grande Salvador, Grande Belém, etc;
Pólos (ou centros) regionais – cidades que influenciam as áreas urbanas vizinhas: Florianópolis (SC), Santos(SP), Vitória (ES), Campina Grande(PB), etc;
Centros locais – cidades de menor importância.
Da metrópole nacional à cidade global
O processo de globalização da economia internacional colocou outros parâmetros para as grandes metrópoles mundiais. O aperfeiçoamento dos transportes, a rapidez das comunicações, possibilitada pela telefonia móvel, pelo fax e pela internet, provocaram uma integração das cidades em níveis muito mais amplos.
As principais metrópoles, dotadas de melhor infra-estrutura de serviços, transportes e comunicações, tornaram-se centros geográficos privilegiados, de onde as empresas transnacionais comandam toda sorte de transações materiais e virtuais. Ou seja, formaram-se laços muito estreitos entre as empresas mais dinâmicas e esses grandes espaços urbanizados, integrados às redes mundiais.
Nesse contexto, os novos estudos sobre a urbanização têm gerado novas nomenclaturas e classificações, aperfeiçoando o conhecimento das cidades brasileiras.
Dessa forma, atualmente, São Paulo e Rio de Janeiro podem ser consideradas metrópoles globais; as áreas metropolitanas de capitais importantes como Porto Alegre, Brasília, Salvador ou Curitiba formam as metrópoles nacionais; e, dentro dessa nova hierarquia urbana, existem ainda metrópoles regionais, como Goiânia e Campinas; centros regionais, como Manaus e Natal, além de cidades caracterizadas como centros sub-regionais (Santarém, no Pará, e Piracicaba, em São Paulo, por exemplo).
A industrialização tornou os centros urbanos responsáveis pela maior parte da produção nacional (estima-se em mais de 90%). Mesmo as atividades geradas no ambiente rural, como a agricultura e a pecuária, dependem fortemente de produtos, tecnologia, crédito e serviços fornecidos pelas cidades.
A década de 1990, entretanto, consolidou uma nova tendência de urbanização no Brasil, que pode ser caracterizada como uma desmetropolitização. Ou seja, uma reversão no crescimento das grandes metrópoles, em favor de cidades médias, onde os custos de produção são menores e as condições de vida tendem a ser melhores.
Indústrias e empresas ligadas ao setor de serviços realizam cada vez mais a escolha de localizações geográficas alternativas às saturadas metrópoles do Centro-Sul. Cidades como Campinas, São Carlos, Ribeirão Preto, Goiânia, Florianópolis, além de diversas capitais nordestinas estão entrando definitivamente no mapa das empresas nacionais e estrangeiras.
DARCY RIBEIRO: VIDA, OBRA, PENSAMENTO
Fábio Pereira
Biografia*
Darcy Ribeiro nasceu em Minas (1922), no centro do Brasil. Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Neste período fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena.
Nos anos seguintes (1955) dedicou-se à educação primária e superior. Criou a Universidade de Brasília e foi Ministro da Educação. Mais tarde foi Ministro-Chefe da Casa Civil e coordenava a implantação das reformas estruturais, quando sucedeu o golpe militar de 64, que o lançou no exílio.
Viveu em vários países da América Latina onde, conduzindo programas de reforma universitária, com base nas idéias que defende em A universidade necessária. Foi assessor do presidente Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado, do Peru. Escreveu neste período os cinco volumes de seus Estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e a Civilização, O dilema da América Latina, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil, e Os índios e a Civilização), que têm 96 edições em diversas línguas. Neles propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.
Ainda no exílio, começou a escrever os romances Maíra e O mulo, e já no Brasil escreveu dois outros: Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou também uma coletânea de ensaios insólitos: (Sobre o óbvio), e um balanço de sua vida intelectual: Testemunho. Edita juntamente com Berta G. Ribeiro a Suma Teológica brasileira. Seu último livro, publicado pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em Português, é A fundação do Brasil, um compêncio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira, e precedidos de um longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil.
Retornando ao Brasil em 1976, voltou a dedicar-se à educação e à política. Elegeu-se vice-governador do estado do Rio de Janeiro, foi secretário da Cultura e Coordenador do Programa de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs que são grandes escolas de turno completo para 1000 crianças e adolescentes. Criou, então, a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvin, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema. E o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.
Elegeu-se senador da República, função que exerce defendendo vários projetos, entre eles, uma lei de trânsito para defender os pedestres contra a selvageria dos motoristas; uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos; uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro que envenena e mata milhares de crianças. Combate energicamente no Congresso para que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação seja mais democrática e mais eficaz. Publica pelo Senado a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
Conta entre suas façanhas maiores haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto de Oscar Niemeyer. Gravou um disco na série mexicana "Vozes da América". E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne e das Universidades de Montevidéu, Copenhague e da Venezuela Central.
ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA DA CIVILIZAÇÃO
Com livro O Processo Civilizatório, publicado em 1972, Darcy Ribeiro trouxe para o âmbito de nossas discussões, os grandes problemas da evolução das sociedades humanas. Ele dá início aos estudos sobre antropologia das civilizações. Sua motivação é de tornar compreensível a formação dos povos americanos. Com argumentos novos e críticos busca compor um esquema coerente e lógico da história da humanidade. Segundo Darcy, esta tarefa foi requisito prévio indispensável ao estudo da formação dos povos americanos.
Ele analisa o surgimento das formações sócio-culturais que se impuseram desde 10.000 anos, com o objetivo de entender as causas do desenvolvimento sócio-econômico desigual e quais as perspectivas para os povos ditos atrasados.
Segundo Darcy, tornava-se necessário a formulação de um esquema das etapas evolutivas para, assim, ser possível uma tipologia para poder classificar os diversos agrupamentos que se uniram para formar as sociedades nacionais americanas de hoje. Pergunta-nos:
Como classificar, uns em relação aos outros, os povos indígenas que variavam desde altas civilizações até hordas pré-agrícolas e que reagiram à conquista segundo o grau de desenvolvimento que haviam alcançado? Como situar em relação àqueles povos e aos europeus, os africanos desgarrados de grupos em distintos graus de desenvolvimento para serem transladados à América como mão-de-obra escrava? Como classificar os europeus que regeram a conquista? Os ibérios que chegaram primeiro e os nórdicos que vieram depois - sucedendo-os no domínio de extensas áreas - configuravam o mesmo tipo de formação sociocultural? Finalmente, como classificar e relacionar as sociedades nacionais americanas por seu grau de incorporação aos moldes de vida da civilização agrária-mercantil e, já agora, da civilização industrial? (1972, p.02)
Nesta perspectiva, Darcy Ribeiro surge ganhando uma projeção mundial, atuando intensamente nas discussões dos grandes problemas da evolução da humanidade.
Como vimos, em sua teoria evolucionista, Darcy busca compor um discurso que nos explique e nos ajude a perceber para onde estamos caminhando, que futuro podemos ter. Uma coisa ele deixa claro: não somos iguais; nisto parece comungar com o idéia de Simón Bolívar de que, nós, latino-americanos, constituímos um pequeno gênero humano.
Posterior ao seu trabalho "O Processo Civilizatório", Darcy Ribeiro escreveu As Américas e a civilização, publicado primeiro na Espanha em 1969, pois Darcy, neste período, se encontrava no exílio.
Tentar descrever a significação desta obra na verdade nos parece uma missão nada simples. Com o objetivo central de classificação dos povos americanos ele realiza um trabalho de proporções inigualáveis. Justifica:
Nosso estudo é uma tentativa de integração das abordagens antropológica, sociológica, econômica, histórica e política em um esforço conjunto para compreender a realidade americana de nossos dias. Cada uma dessas abordagens ganharia em unidade se isolada das demais, mas perderia em capacidade explicativa. Acresce, ainda, que existem demasiados estudos parciais desse tipo, quando não agrupados em obras de conjunto, ao menos dispersos em artigos, abordando os diversos problemas de que tratamos aqui. O que nos falta são esforços por integrá-los orgânicamente, a fim de verificar que contribuições podem oferecer às ciências sociais para o conhecimento da realidade que vivemos e para determinar as perspectivas de desenvolvimento que temos pela frente. (1970, pp. 03-04)
Encontramos aqui uma investigação combatente, questionadora dos fatores culturais, sociais e econômicos que precederam a formação das etnias nacionais americanas. Com este estudo Darcy Ribeiro buscava compreender o motivo do atraso das sociedades americanas; ele está convencido de que as teorias da história não nos explicam. Analisa ainda, as causas do desenvolvimento desigual das sociedades americanas. Dirá:
¿Por qué Haiti, que era la región más rica, más valioso del mundo, fue la madre de Norteamérica, que vivía de vender trigo? Para Haiti los negros producían su alimento, el más valioso del mundo, la mercancía más valiosa del mundo que era el azúcar. Entonces cuando visiten Francia y anden por los valles del Loira con aquellos grandes castillos bellíssimos, verán el oro divino de aquí, de Haiti. (1996. p. 22)
Neste livro, Darcy faz uma extensa análise antropológica dos fatores sociais, culturais e econômicos do período de formação das etnias nacionais. Desde a expansão européia, passando por uma profunda análise dos "Povos-Testemunhas" (os meso-americanos e andinos), ele segue delineando as transformações que deram origem aos "Povos Novos" (Brasil, Cuba, Venezuela). Estes povos, segundo Darcy:
Son nuevos en el sentido de que fueron hechos por haberse deshecho sus matrices. Sus indígenas fueron desindianizados, sus negros desafricanizados, sus europeos deseuropeizados, todo lo cual hace una cosa nueva que no tiene pasado glorioso y está volcado hacia el futuro. Son pueblos construídos con proletariado externo y parten de la inmensa dificultad de componer con gente desenraizada un gente nueva, un ser nuevo en la história. (1996, p. 23)
Os povos que migraram para as terras do Novo Mundo, Darcy os denominou Povos-Transplantados. Constituíram um número elevado de europeus que, juntamente com suas famílias, vieram parar aqui a fim de reconstruir suas vidas. Buscavam uma vida melhor, conquistar aqui o que em suas terras estavam impedidos de ter e ser. Darcy os caracteriza como:
Os Povos-Transplantados contrastam com as demais configurações sócio-culturais das Américas por seu perfil caracteristicamente europeu, expresso na paisagem que plasmaram, no tipo racial predominantemente caucasóide, na configuração cultural e, ainda, no caráter mais maduramente capitalista de sua economia, fundada principalmente na tecnologia industrial moderna e nacapacidade integradora de sua população no sistema produtivo e a maioria dela na vida social, política e cultural da nação. Por isto mesmo, êles se defrontam com problemas nacionais e sociais diferentes e têm uma visão do mundo também distinta dos povos americanos das outras categorias. (1970, p.456)
Outro ponto importante são as profundas diferenças que existiam entre os povos. Segundo Darcy não só são decorrentes das matrizes culturais predominantemente latina e católica, num caso, anglo-saxônica e protestante, no outro, como também decorrem do grau de desenvolvimento sócio-econômico.
Darcy segue mostrando os fatores de diferenciação consequentes do processo de formação étnico-nacional dos Povos-Transplantados. Dirá:
Na verdade, só historicamente e pelo exame acurado do processo civilizatório global no qual todos êstes povos se viram envolvidos e dos vários fatôres intervenientes na formação de cada uma dêles é que poderemos explicar sua forma e sua performance. Isto é o que nos propomos fazer com respeito aos Povos-Transplantados pelo exame, tanto da composição racial e cultural dos seus contingentes formadores, quanto do seu modo de aliciamento, de associação e de fusão em novas entidades étnico-nacionais. (1970, p.457)
O terceiro volume dos Estudos de Antropologia da Civilização, O dilema latino-americano, é um estudo sobre as diferentes situações entre as Américas. Darcy focaliza os contrastes existentes entre as Américas, ou seja, a convivência da riqueza e da pobreza. Neste sentido ele propõe novas tipologias para as classes sociais e para as estruturas de poder na América Latina.
Segundo Darcy:
Faltava ainda uma teoria da cultura, capaz de dar conta da nossa realidade, em que o saber erudito é tantas vezes espúrio e o não-saber popular alcança, contrastantemente, atitudes críticas, mobilizando consciências para movimentos profundos de reordenação social. Como estabelecer a forma e o papel da nossa cultura erudita, feita à criatividade popular, que mescla as tradições mais díspares para compreender essa nossa nova versão do mundo e de nós mesmos? Para dar conta dessa necessidade é que escrevi O dilema da América Latina. Ali, proponho novos esquemas das classes sociais, dos desempenhos políticos, situando-os debaixo da pressão hegemônica norte-americana em que existimos, sem nos ser, para sermos o que lhes convém a eles. (1996, p. 16)
No seu livro Os brasileiros: Teoria do Brasil publicado em 1965, Darcy inicia uma etapa, onde ele passa a aplicar à realidade brasileira as categorias e conceitos novos construídos nas obras anteriores. Começa explicar concretamente a complexa situação brasileira. Ao que nos parece, ocorre uma ruptura bastante clara com o cientificismo que marcava as obras daquele período.
Outro livro dos estudos Os índios e a civilização publicado em 1970, segundo Darcy Ribeiro, foi o resultado dos dados colhidos durante os dez anos em que passou no convívio com os índios nas diversas aldeias em que viveu. Para Darcy foi importante a troca de experiências com indigenistas, etnólogos e também com missionários. Outra ajuda de grande importância foi o acesso aos arquivos valiosos do Serviço de Proteção aos Índios, órgão no qual trabalhou como etnólogo.
No prefácio da obra explica:
O tema deste livro é o estudo do processo de transfiguração étnica, tal como êle pode ser reconstituído com os dados da experiência brasileira; e a apreciação crítica dos ingentes esforços para salvar povos que não foram salvos. Como alguns dêsses povos conseguiram sobreviver às compulsões a que estiveram sujeitos - e alguns outros ainda não experimentaram o contato com a civilização - confiamos que tanto as análises como as denúncias aqui contidas ajudem a definir formas mais justas e adequadas de relações com os índios, capazes de abrir-lhes pespectivas de sobrevivência e um destino melhor. (1970, p. 03)
Darcy define claramente a temática e os objetivos deste livro. Segundo ele é um estudo do processo de transfiguração étnica. Numa perspectiva crítica busca interpretar as pesquisas de forma sempre elevadas reconstituindo assim, os dados da experiência brasileira.
Após uma visão geral da situação das populações indígenas no final do século XIX e início do século XX, ele passa a refletir criticamente os ingentes esforços para atender os povos desprotegidos da América Latina. Daí passa a focalizar globalmente o que chama "o processo de transfiguração étnica". De maneira nova e original reconstitui a história natural das relações dos índios e os civilizados.
Com este livro, os "Estudos de Antropologia da Civilização", um conjunto de quase 2 mil páginas, Darcy Ribeiro encerra os escritos "preliminares" de seu grande projeto: tornar o Brasil explicável. Responder a pergunta: Por que o Brasil não deu certo?. Temos assim, um conjunto dos fundamentos teóricos que tornaram possível, o que segundo ele, foi o desafio maior que já se propôs, o livro: O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil.
O POVO BRASILEIRO
Entender o sentido do que hoje somos mais que simples desafio parece se constituir num longo e minucioso trabalho. A reflexão sobre nossa formação nos envia às nossas origens, à história que como brasileiros fomos construindo. A realidade com a qual nos deparamos traz reflexões e pontos de vista oriundos de outros contextos que, para a nossa formação histórica, não são suficientes para nos explicar como povo.
Dentro desse desafio de nos tornar explicáveis Darcy Ribeiro propõe um conjunto teórico a partir da nossa contexto histórico. Ribeiro reune um conjunto de pesquisas que culminam em uma teoria do Brasil até então inédita. Subjacente à descrição desta teoria, está sua preocupação em entender por que caminhos passamos que nos levaram a distâncias sociais tão profundas no processo de formação nacional.
Retomando nossa história, Darcy começa a descrever como foi acontecendo a gestação do Brasil e dos brasileiros como povo. Nessa reconstituição ele enfatiza a confluência, ou seja, fala da união ocorrida entre portugueses, índios e negros, matrizes étnicas do brasileiro.
Um povo novo que, no dizer de Darcy, se enfrentam e se fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária". Para ele, essa mestiçagem fez nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça na carne e no espírito.
Segundo Darcy essa gente fez-se diferente:
Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiça, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização sócio-econômico, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros. (1996, p. 19)
Ao contrário do que se podia imaginar, um conjunto tão variado de matrizes formadoras não resultou num conjunto multiétnico. Diz:
... apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação. (1996, p. 20)
Com pequena exceção a grupos que sobrevivem de maneira isolada, que mantendo seus costumes, mas que, segundo Darcy, não podem afetar a macroetnia em que se encontram.
Dessa unidade étnica básica, ele não quer propor uma uniformidade entre os brasileiros, ele esclarece está questão distinguindo três forças diversificadoras: a ecológica, a econômica e a imigração. Estas formam os fatores que tornaram presente os diferentes modos de ser dos brasileiros, espalhados nas diversas regiões do território brasileiro.
Comenta:
A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de ser, contribuiu para ainda mais uniformizar os brasileiros no plano cultural, sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto gênero de vida que cria suas próprias paisagens humanas, plasmou ilhas fabris em suas regiões. As novas formas de comunicação de massa estão funcionando ativamente como difusoras e uniformizadoras de novas formas e estilos culturais. (1996, p. 21)
Propõe assim que, apesar das diferentes matrizes racionais nas quais se formaram os brasileiros, também por questões culturais e por situações regionais, "os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia". Formamos uma etnia nacional única, um só "povo incorporado".
Ressalta que este mesmo processo ocorreu consolidar os antagonismos sociais de caráter traumático. Diz:
A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que encandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar o pobres que lhes caem às mãos. (1996, p.120)
Para Darcy formamos a maior presença neo-latina no mundo. Somos uma "nova Roma". Segundo ele, melhor, porque racialmente lavada em sangue índio, em sangue negro. Esta nossa singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos e desafiados a construir uma sociedade inspirada na propensão indígena para o convívio cordial e para a reciprocidade e a alegria saudável do negro extremamente alterativo.
Será nesta perspectiva que nas linhas a seguir buscaremos esboçar, segundo os termos de Darcy Ribeiro, as principais articulações de como os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos chegando a ser o que hoje somos.
1. Novo Mundo
Nesta parte Darcy trata das características iniciais do território brasileiro, das terras encontradas pelos portugueses que desembarcaram pela primeira vez no ano 1500 do calendário europeu. Estas terras que se encontravam povoadas por um grande número de povos indígenas que viviam por toda superfície do Brasil.
Segundo Darcy: "Eram, tão-só, uma miríade de povos tribais, falando línguas do mesmo tronco, dialetos de uma mesma língua, cada um dos quais, ao crescer, se bipartia, fazendo dois povos que começavam a se diferenciar e logo se desconheciam e se hostilizavam" (1996, p. 29).
Essas tribos aqui encontradas eram na sua maioria do tronco tupi, cerca de um milhão de índios. Elas se encontravam nos primeiros passos da revolução agrícola na escala da evolução cultural. Já conseguiam domesticar diversas plantas. Diz:
Além da mandioca, cultivavam o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, cuias e cabaças, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-mate, o guaraná, entre muitas outras plantas. Inclusive dezenas de árvores frutíferas, como o caju, o pequi etc. Faziam, para isso, grandes roçados na mata, derrubando as árvores com seus machados de pedra e limpando o terreno com queimadas. (1996, p. 32)
Com o cultivo da terra garantiam a subsistência do ano inteiro. É importante lembrar que as aldeias possuíam uma estrutura igualitária de convivência. Mas, por colonização de suas terras, as tribos se chocavam em guerra umas com as outras.
Além dos povos tupi, outros povos indígenas participaram da formação do povo brasileiro, como os Paresi, os Bororos, os Xavantes, os Kayapós, os Kaigangs e os Tapuias.
Ao contrário do modelo constituído pelas tribos indígenas na ilha Brasil, os portugueses invasores possuíam relações sociais baseadas na estratificação das classes, tinham uma velha experiência como civilização urbana. Com eles veio a Igreja católica que exerceu uma grande influência no processo de formação sócio-cultural do povo brasileiro. Na visão de Darcy, a Igreja exerceu um forte poder de mando, influenciando na vida dos indígenas e negros.
No contexto mundial Portugal entrava na disputa pelos novos mundos, animada pelas forças transformadoras da revolução mercantil. Diz Darcy:
Esse complexo do poderio português vinha sendo ativado, nas últimas décadas, pelas energias transformadoras da revolução mercantil, fundada especialmente na nova tecnologia, concentrada na nau oceânica, com suas novas velas de mar alto, seu leme fixo, sua bússola, seu astrolábio e, sobretudo, seu conjunto de canhões de guerra.
Era a humanidade mesma que entrava noutra instância de sua existência, na qual se extinguiriam milhares de povos, com suas línguas e culturas próprias e singulares, para dar nascimento às macroetnias maiores e mais abrangentes que jamais se viu. (1996, p.38)
Era a superação da estado feudal, o processo civilizatório no seu momento mercantil.
Para Darcy além de protagonizarem o inferno da expansão territorial político-econômico, se entitularam propagadores da unidade dos homens num só cristandade. Diz:
Eles se davam ao luxo de propor-se motivações mais nobres que as mercantis, definindo-se como os expansores da cristandade católica sobre os povos existentes e por existir no além-mar. Pretendiam refazer o orbe em missão salvadora, cumprindo a tarefa suprema do homem branco, para isso destinado por Deus: juntar todos os homens numa só cristandade, lamentavelmente dividida em duas caras, a católica e a protestante. (1996, p.39)
Para o índio que passava a conviver com aquela situação nova não foi nada simples compreender o que representava aqueles acontecimentos novos. O fato é que deste choque de culturas, como quisemos tornar mais claro no primeiro capítulo, surgiram concepções que os índios estupefatos por certo tempo sustentaram, como a de que os recém chegados eram deuses.
Para Darcy, de início, os índios ali na praia recebendo aqueles indivíduos tão estranhos estavam espantados. Seriam até mesmo gente de seu deus Maíra. Comenta:
Provavelmente seriam pessoas generosas, achavam os índios. Mesmo porque, no seu mundo, mais belo era dar que receber. Ali, ninguém jamais espoliara ninguém e a pessoa alguma se negava louvor por sua bravura e criatividade. Visivelmente, os recém-chegados, saídos do mar, eram feios, fétidos e infectos. Não havia como negá-lo. É certo que, depois do banho e da comida, melhoraram de aspecto e de modos. Maiores teriam sido as esperanças do que os temores daqueles primeiros índios. (1996, p. 42)
Como sabemos, a grande decepção não demorou para acontecer. Os indígenas perceberam que os recém chegados do mar não passavam de enganadores, mentirosos, lhes traziam pequenos utensílios e em troca lhes tiravam a alegria de viver, lhes enchiam de doenças que os dizimava ao milhares.
Darcy aponta para as duas perspectivas de mundo que se chocavam. Para os conquistadores essa nova terra era um espaço de exploração em ouro e glórias, na visão dos índios, (1996, pp. 44-45) "o mundo era um luxo de se viver, tão rico de aves, de peixes, de raízes, de frutas, de flores, de sementes, que podiam dar as alegrias de caçar, de pescar, de plantar e colher a quanta gente aqui viesse ter". Enquanto os brancos não mediam esforços para alcançar as riquezas que lhes interessavam, os índios acreditavam que a vida era dádiva de deuses bons. Na perspectiva de Darcy os brancos para os índios, eram aflitos demais. Para os brancos, a vida era uma sofrida obrigação em todos estavam condenados ao trabalho e subordinados ao lucro, enquanto que, para os índios, "a vida era uma tranquila função de existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária".
Darcy preocupa-se em estudar o processo civilizatório, tendo em vista situar as nações germinais dos povos latino-americanos. Comenta:
Somos um rebento mutante, ultramarino, da Civilização Ocidental Européia, na sua versão iber-americana. Produto da expansão européia sobre as Américas, que destruindo milhares de povos modelou com o que restou deles uns poucos novos povos, multiformemente refeitos. Todos configurados como extensões da metrópole que regeu a colonização, impondo sua língua e suas singularidades. (1995, p. 11)
2. Gestação Étnica
A partir desse ponto Darcy vai desenvolvendo sua visão sobre as condições em que os brasileiros foram se formando, o que denominou cunhadismo. O cunhadismo, segundo ele, era a prática indígena que tornou possível incorporar estranhos às comunidades. Consistia em se oferecer uma moça índia como esposa aos recém-chegados. A partir de então, o estranho estabelecia uma relação de parentesco com os índios dessa família. Esse processo acabou influenciando decisivamente no processo de formação do brasileiro.
Para o colonizador essa prática tornou-se a condição de possibilidade para o processo de pilhagem nas terras conquistadas e também a própria condição da conquista das terras. Pois contavam com um enorme contingente de índios que segundo determinava o sistema de parentesco dos índios, deveriam pôr-se a serviço do parente.
Diz Darcy:
Como cada europeu posto na costa podia fazer muitíssimos desses casamentos, a instituição funcionava como uma forma vasta e eficaz de recrutamento de mão-de-obra para os trabalhados pesados de cortar paus-de-tinta, transportar e carregar para os navios, de caçar e amestrar papagaios e soíns.
A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir a numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. É crível até que a colonização pudesse ser feita através do desenvolvimento dessa prática. Tinha o defeito, porém, de ser acessível a qualquer europeu desembarcado junto às aldeias indígenas. Isso efetivamente ocorreu, pondo em movimento um número crescente de navios e incorporando a indiada ao sistema mercantil de produção. Para Portugal é que representou uma ameaça, já que estava perdendo sua conquista para armadores franceses, holandeses, ingleses e alemães, cujos navios já sabiam onde buscar sua carga. (1996, p. 82)
Por fim, à medida em que a demanda de mão-de-obra foi aumentando, tiveram de passar da utilização do sistema de cunhadismo às guerras de captura dos índios.
Outras instituições que tiveram grande influência na gestação étnica do Brasil foram as donatarias e as reduções, onde os índios viviam submetidos às ordens dos missionários.
Na concepção de Darcy o Brasil tem sido, ao longo dos séculos, um terrível moinho de gastar gentes. O fato é que se gastaram milhões de índios, milhões de africanos e milhões de europeus. Comenta:
Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos atenham a qualquer servidão, desafiado a frorescer, finalmente, como uma civilização nova, autônoma e melhor. (1995, p.13)
Nossa matriz negra foi responsável por remarcar o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes. Pelo fato de aprenderem o português com que os capatazes lhes gritavam e que com o tempo passavam a se comunicar entre si, acabaram conseguindo aportuguesar o Brasil. Diz:
Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo do brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e fixou nas áreas onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma o Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e o de Luanda. (1995, p. 14)
A condição de vida do negro é descrita por Darcy como uma situação espantosa. Relata a violência permanente pela qual foram obrigados a viver. Pergunta-se: como conseguiram permanecer humanos? Como sobreviver sobre tanta pressão, trabalhando dezoito horas por dia todos os dias do ano? A triste conclusão é de que seu destino era morrer de estafa que era sua morte natural.
Para Darcy:
Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (1996, p. 120)
Darcy assinala com grande lamento que "nossos patrícios negros" sofreram e ainda sofrem o drama de sua penosa ascensão de escravo a assalariado e a cidadão, sobre a dureza do preconceito racial.
3. Processo Sociocultural
Segundo a visão de nosso autor, o processo de formação do povo brasileiro foi marcado constantemente por situações de conflitos. Caracteriza o entendido entrechoque dos contingentes índios, negros e brancos dentro do quadro de conflitos não puros. Pois, segundo entende, sempre ocorreu uma mescla entre uns e outros.
Para Darcy uma nova situação se impôs com a chegada do dominador europeu, tendo em vista que este queria buscar de todas as formas impor uma hegemonia nessas terras.
Os conflitos interétnicos que aqui existiam, sem maiores consequências, agora de maneira mais ampla, é surpreendido por uma nova situação de guerra irreconciliável.
Nesse confronto, as forças que se chocam são muito desiguais. Comenta:
De um lado, sociedades tribais, estruturadas com base no parentesco e outras formas de sociabilidade, armadas de uma profunda identificação étnica, irmanadas por um modo de vida essencialmente solidário. Do lado oposto, uma estrutura estatal, fundada na conquista e dominação de um território, cujos habitantes, qualquer que seja a sua origem, compõem uma sociedade articulada em classes, vale dizer, antagonicamente opostas mas imperativamente unificadas para o cumprimento de metas econômicas socialmente irresponsáveis. A primeira das quais é a ocupação do território. Onde quer que um contingente etnicamente estranho procure, dentro desse território, manter seu próprio modo tradicional de vida, ou queira criar para si um gênero autônomo de existência, estala o conflito cruento. (1996, p.169)
Entre os momentos conflitivos Darcy aponta para os conflitos entre os invasores. Dizendo que entre colonos e jesuítas houve uma longa guerra sem quartéis, marcada por componentes classistas, racistas e étnicos, situa as motivações de colonização dos jesuítas num plano distinto ao da colonização espanhola e portuguesa.
Um outro enfrentamento altamente conflitivo é o que se deu por consequências predominantemente raciais. Entre as três matrizes vemos um sentimento de preconceito. Darcy diz que para o negros de ontem e de hoje, a liberdade passa a ser uma difícil e utópica busca. Por ela, são forçados a luta constante a fim de alcançarem uma situação de vida mais digna. Diz:
As lutas são inevitavelmente sangrentas, porque só à força se pode impor e manter a condição de escravos. Desde a chegada do primeiro negro, até hoje, eles estão na luta para fugir da inferioridade que lhes foi imposta originalmente, e que é mantida através de toda a sorte de opressões, dificultando extremamente sua integração na condição de trabalhadores comuns, iguais aos outros, ou de cidadãos com os mesmos direitos. (1996, p. 173)
Outra situação é a de caráter fundamentalmente classista, que configura a luta entre proprietários e as massas trabalhadoras. Darcy, ao que parece, vê essas lutas identificando-a como o recrutamento de mão-de-obra para a produção mercantil.
No processo de formação sociocultural do Brasil, Darcy vê a organização do que ele chama de empresas. A empresa escravista, ele a vê como a principal, latifundiária e monocultora que foi sempre altamente especializada e essencialmente mercantil. Outra, já como forma alternativa de colonização, foi a empresa jesuítica. Esta estava fundada na mão-de-obra servil dos índios. Uma terceira, que tinha um alcance social bastante considerável, foram as múltiplas microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado, baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-obra. Estas incorporam os mestiços de europeus com índios e negros dando corpo ao que viria a ser o grosso do povo brasileiro.
Darcy diz que essas empresas, cada qual com seus fins específicos, atuaram para garantir o êxito do empreendimento colonial português no Brasil.
Uma quarta empresa foi constituída pelo núcleo portuário de banqueiros armadores e comerciantes de importação e exportação. Formavam o componente predominante da economia colonial e o mais lucrativo dela.
Ainda sobre o processo de formação sociocultural, Darcy elabora uma visão de conjunto do processo de urbanização brasileira. Segundo ele, o Brasil nasceu já como uma civilização urbana, separada em conteúdos rurais e citadinos. Comenta:
Essas cidades e vilas, grandes e pequenas, constituíam agências de uma civilização agrário-mercantil, cujo papel fundamental era gerir a ordenação colonial da sociedade brasileira, integrando-a no corpo de tradições religiosas e civis da Europa pré-indústrial e fazendo-a render proventos à Coroa portuguesa. Como tal, eram centros de imposição das idéias e das crenças oficiais e de defesa do velho corpo de tradições ocidentais, muito mais que núcleos criadores de uma tradição própria. (1996, p. 197)
Ele elabora um quadro da questão agrária brasileira, onde comenta as dimensões espantosas dos latifúndios, a questão do monopólio da terra e a monocultura. Relaciona o temível êxodo rural com o inchaço das cidades em consequência causando a miserabilização da população urbana. Para Darcy formou-se um modelo político-econômico que estratifica a população brasileira. Diz:
A estratificação social gerada historicamente tem também como característica a racionalidade resultuante de sua montagem como negócio que a uns privilegia e enobrece, fazendo-os donos da vida, e aos demais subjuga e degrada, como objeto de enriquecimento alheio. Esse caráter intencional do empreendimento faz do Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma feitoria, porque não estrutura a população para o prenchimento de suas condições de sobrevivência e de progresso, mas para enriquecer uma camada senhorial voltada para atender às solicitações exógenas. (1996, p. 212)
Sobretudo, a distância social entre ricos e pobres é, para Darcy, uma condição extremamente espantosa, somando-se a isso a discriminação sofrida pelos negros, mulatos e índios. O problema racial constitui-se num sério problema no Brasil. De maneira mais seria é aquele que pesa sobre os negros, a mais árdua foi e, ainda é, a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional. Comenta:
A nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, numca fez nada pela massa negra que a construira. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão. Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde encontra um ambiente de convivência social menos hostil. Constituíram, originalmente, os chamados bairros africanos, que deram lugar às favelas. Desde então, elas vêm se multiplicando, como a soluçào que o pobre encontra para morar e conviver. Sempre debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e expulsos. (1996, p. 222)
Ainda hoje, comenta haver a mentalidade assimilacionista que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branqueação progressiva. Para Darcy a característica distintiva do racismo brasileiro é que ele não incide sobre a origem racial das pessoas, mas sobre a cor de sua pele.
Para ele, a possibilidade de existência de uma democracia racial está vinculada com a prática de uma democracia social, onde negros e brancos partilhem das mesmas oportunidades sem qualquer forma de desigualdade.
Darcy avalia o processo de estruturação como uma configuração diferente de quantas haja, segundo ele só explicável em termos, históricas. Comenta:
Composta como uma constelação de áreas culturais, a configuração histórico-cultural brasileira conforma uma cultura nacional com alto grau de homogeneidade. Em cada uma delas, milhões de brasileiros, através de gerações, nascem e vivem toda a sua vida encontrando soluções para seus problemas vitais, motivações e explicações que se lhes afiguram como o modo natural e necessário de exprimir sua humanidade e sua brasilidade. Constituem, essencialmente, partes integrantes de uma sociedade maior, dentro da qual interagem como subculturas, atuando entre si de modo diverso do que o fariam em relação a estrangeiros. Sua unidade fundamental decorre de serem todas elas produto do mesmo processo civilizatório que as atingiu quase ao mesmo tempo; de terem se formado pela multiplicação de uma mesma protocélula étnica e de haverem estado sempre debaixo do domínio de um mesmo centro reitor, o que não enseja definições étnicas conflitivas. (1996, p. 254)
Para Darcy, os brasileiros são hoje, um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente. Fala-se, como diz, uma mesma língua, sem dialetos.
Como mestiços "na carne e no espírito" temos o desafio de firmar nosso potencial, nossos modos distintos entre todos os povos. Devemos forjar um verdadeiro conceito de povo que englobe a todos sem distinção, em todos os direitos que devem assistir a cada cidadão brasileiro.
Nesse país mestiço, o povo brasileiro segundo Darcy, veio formando-se como uma nova Roma. A maior presença neo-latina no mundo, ainda em ser, forja-se como a grande presença do futuro.
CONCLUSÃO
No conjunto da obra de Darcy Ribeiro reconhecemos uma clara contribuição para o pensamento latino-americano, a qual Darcy escreveu uma vasta obra sobre indígenas, negros e mestiços no processo de formação do povo brasileiro. Sua obra surge como um espelho em que nós brasileiros podemos nos identificar, nos reconhecer. Nela encontra-se um esforço que ilumina o processo de desenvolvimento humano, social e cultural do nosso povo e de toda a América Latina. Acredito que seja indispensável o conhecimento da obra de Darcy Ribeiro para uma profunda tomada de consciência a partir de uma visão de conjunto do Brasil e da América Latina.
A obra de Ribeiro abre-se ainda para uma nova perspectiva onde identificamos o brasileiro com características revalorizadas peculiarmente. Assim, há uma consciência que ainda estamos construindo, o que, para Darcy, é um dos grandes desafios que enfrentamos: o de inventar o humano, com propriedades diferentes, mais solidários e fraternas.
Como uma descrição de aventuras, Darcy fala do processo de formação do povo fazendo-se a si mesmo. Expõe sua grande convicção sobre a formação de um novo gênero humano, a partir do estudo dos componentes novos da transfiguração, resultado do choque entre índios, negros e europeus. Daí lança sua denúncia, "o Brasil sempre foi um moinho gastando gente", "endossando" a boca do europeu, enriquecendo-o com a exploração do Brasil. Na angústia por entender porque o Brasil não deu certo do ponto de vista de seu povo, dá um importante exemplo de compromisso com este povo, sobretudo, através de sua sensibilidade com os índios, com os quais se comoveu e se identificou. Destes, emocionado, diz haver ganhado dignidade.
Por fim, identificamos em Darcy, de forma inconfundível, os traços fortes dos grandes pensadores latino-americanos, como: Simón Bolívar e José Martí, principalmente no que tange a construção a idéia de uma "nação latino-americana" mais humana, como uma nova civilização, mais "generosa, porque aberta à convivência com todos as raças e todos as culturas".
*Biografia: trecho extraída do livro O Brasil como Problema de Darcy Ribeiro publicado pela editora Francisco Alves).
BIBLIOGRAFIA
RIBEIRO, Darcy. O processo Civilizatório: Etapas da Evolução Sócio-Cultural. 10º ed., Petrópolis: Vozes, 1987.
_____________. As Américas e a Civilização: Processo de Formação e Causas do Desenvolvimento Cultural Desigual dos Povos Americanos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970.
_____________. O Dilema da América Latina: Estruturas de Poder e Forças Insurgentes. 5º ed., Petrópolis: Vozes, 1988.
_____________. Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil. Editora Paz e Terra, 1972.
_____________. Os Índios e a Civilização: A Integração das Populações Indígenas no Brasil Moderno. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970.
_____________. O Brasil como Problema. 2º ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
_____________. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2º ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1996
Fábio I. Pereira.ffabios@uol.com.br
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Fábio Pereira
Biografia*
Darcy Ribeiro nasceu em Minas (1922), no centro do Brasil. Formou-se em Antropologia em São Paulo (1946) e dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia. Neste período fundou o Museu do Índio e criou o Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena.
Nos anos seguintes (1955) dedicou-se à educação primária e superior. Criou a Universidade de Brasília e foi Ministro da Educação. Mais tarde foi Ministro-Chefe da Casa Civil e coordenava a implantação das reformas estruturais, quando sucedeu o golpe militar de 64, que o lançou no exílio.
Viveu em vários países da América Latina onde, conduzindo programas de reforma universitária, com base nas idéias que defende em A universidade necessária. Foi assessor do presidente Salvador Allende, do Chile, e Velasco Alvarado, do Peru. Escreveu neste período os cinco volumes de seus Estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e a Civilização, O dilema da América Latina, Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil, e Os índios e a Civilização), que têm 96 edições em diversas línguas. Neles propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.
Ainda no exílio, começou a escrever os romances Maíra e O mulo, e já no Brasil escreveu dois outros: Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou também uma coletânea de ensaios insólitos: (Sobre o óbvio), e um balanço de sua vida intelectual: Testemunho. Edita juntamente com Berta G. Ribeiro a Suma Teológica brasileira. Seu último livro, publicado pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em Português, é A fundação do Brasil, um compêncio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira, e precedidos de um longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil.
Retornando ao Brasil em 1976, voltou a dedicar-se à educação e à política. Elegeu-se vice-governador do estado do Rio de Janeiro, foi secretário da Cultura e Coordenador do Programa de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs que são grandes escolas de turno completo para 1000 crianças e adolescentes. Criou, então, a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvin, o Centro Infantil de Cultura de Ipanema. E o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.
Elegeu-se senador da República, função que exerce defendendo vários projetos, entre eles, uma lei de trânsito para defender os pedestres contra a selvageria dos motoristas; uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar órgãos dos mortos para salvar os vivos; uma lei contra o uso vicioso da cola de sapateiro que envenena e mata milhares de crianças. Combate energicamente no Congresso para que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação seja mais democrática e mais eficaz. Publica pelo Senado a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.
Conta entre suas façanhas maiores haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto de Oscar Niemeyer. Gravou um disco na série mexicana "Vozes da América". E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne e das Universidades de Montevidéu, Copenhague e da Venezuela Central.
ESTUDOS DE ANTROPOLOGIA DA CIVILIZAÇÃO
Com livro O Processo Civilizatório, publicado em 1972, Darcy Ribeiro trouxe para o âmbito de nossas discussões, os grandes problemas da evolução das sociedades humanas. Ele dá início aos estudos sobre antropologia das civilizações. Sua motivação é de tornar compreensível a formação dos povos americanos. Com argumentos novos e críticos busca compor um esquema coerente e lógico da história da humanidade. Segundo Darcy, esta tarefa foi requisito prévio indispensável ao estudo da formação dos povos americanos.
Ele analisa o surgimento das formações sócio-culturais que se impuseram desde 10.000 anos, com o objetivo de entender as causas do desenvolvimento sócio-econômico desigual e quais as perspectivas para os povos ditos atrasados.
Segundo Darcy, tornava-se necessário a formulação de um esquema das etapas evolutivas para, assim, ser possível uma tipologia para poder classificar os diversos agrupamentos que se uniram para formar as sociedades nacionais americanas de hoje. Pergunta-nos:
Como classificar, uns em relação aos outros, os povos indígenas que variavam desde altas civilizações até hordas pré-agrícolas e que reagiram à conquista segundo o grau de desenvolvimento que haviam alcançado? Como situar em relação àqueles povos e aos europeus, os africanos desgarrados de grupos em distintos graus de desenvolvimento para serem transladados à América como mão-de-obra escrava? Como classificar os europeus que regeram a conquista? Os ibérios que chegaram primeiro e os nórdicos que vieram depois - sucedendo-os no domínio de extensas áreas - configuravam o mesmo tipo de formação sociocultural? Finalmente, como classificar e relacionar as sociedades nacionais americanas por seu grau de incorporação aos moldes de vida da civilização agrária-mercantil e, já agora, da civilização industrial? (1972, p.02)
Nesta perspectiva, Darcy Ribeiro surge ganhando uma projeção mundial, atuando intensamente nas discussões dos grandes problemas da evolução da humanidade.
Como vimos, em sua teoria evolucionista, Darcy busca compor um discurso que nos explique e nos ajude a perceber para onde estamos caminhando, que futuro podemos ter. Uma coisa ele deixa claro: não somos iguais; nisto parece comungar com o idéia de Simón Bolívar de que, nós, latino-americanos, constituímos um pequeno gênero humano.
Posterior ao seu trabalho "O Processo Civilizatório", Darcy Ribeiro escreveu As Américas e a civilização, publicado primeiro na Espanha em 1969, pois Darcy, neste período, se encontrava no exílio.
Tentar descrever a significação desta obra na verdade nos parece uma missão nada simples. Com o objetivo central de classificação dos povos americanos ele realiza um trabalho de proporções inigualáveis. Justifica:
Nosso estudo é uma tentativa de integração das abordagens antropológica, sociológica, econômica, histórica e política em um esforço conjunto para compreender a realidade americana de nossos dias. Cada uma dessas abordagens ganharia em unidade se isolada das demais, mas perderia em capacidade explicativa. Acresce, ainda, que existem demasiados estudos parciais desse tipo, quando não agrupados em obras de conjunto, ao menos dispersos em artigos, abordando os diversos problemas de que tratamos aqui. O que nos falta são esforços por integrá-los orgânicamente, a fim de verificar que contribuições podem oferecer às ciências sociais para o conhecimento da realidade que vivemos e para determinar as perspectivas de desenvolvimento que temos pela frente. (1970, pp. 03-04)
Encontramos aqui uma investigação combatente, questionadora dos fatores culturais, sociais e econômicos que precederam a formação das etnias nacionais americanas. Com este estudo Darcy Ribeiro buscava compreender o motivo do atraso das sociedades americanas; ele está convencido de que as teorias da história não nos explicam. Analisa ainda, as causas do desenvolvimento desigual das sociedades americanas. Dirá:
¿Por qué Haiti, que era la región más rica, más valioso del mundo, fue la madre de Norteamérica, que vivía de vender trigo? Para Haiti los negros producían su alimento, el más valioso del mundo, la mercancía más valiosa del mundo que era el azúcar. Entonces cuando visiten Francia y anden por los valles del Loira con aquellos grandes castillos bellíssimos, verán el oro divino de aquí, de Haiti. (1996. p. 22)
Neste livro, Darcy faz uma extensa análise antropológica dos fatores sociais, culturais e econômicos do período de formação das etnias nacionais. Desde a expansão européia, passando por uma profunda análise dos "Povos-Testemunhas" (os meso-americanos e andinos), ele segue delineando as transformações que deram origem aos "Povos Novos" (Brasil, Cuba, Venezuela). Estes povos, segundo Darcy:
Son nuevos en el sentido de que fueron hechos por haberse deshecho sus matrices. Sus indígenas fueron desindianizados, sus negros desafricanizados, sus europeos deseuropeizados, todo lo cual hace una cosa nueva que no tiene pasado glorioso y está volcado hacia el futuro. Son pueblos construídos con proletariado externo y parten de la inmensa dificultad de componer con gente desenraizada un gente nueva, un ser nuevo en la história. (1996, p. 23)
Os povos que migraram para as terras do Novo Mundo, Darcy os denominou Povos-Transplantados. Constituíram um número elevado de europeus que, juntamente com suas famílias, vieram parar aqui a fim de reconstruir suas vidas. Buscavam uma vida melhor, conquistar aqui o que em suas terras estavam impedidos de ter e ser. Darcy os caracteriza como:
Os Povos-Transplantados contrastam com as demais configurações sócio-culturais das Américas por seu perfil caracteristicamente europeu, expresso na paisagem que plasmaram, no tipo racial predominantemente caucasóide, na configuração cultural e, ainda, no caráter mais maduramente capitalista de sua economia, fundada principalmente na tecnologia industrial moderna e nacapacidade integradora de sua população no sistema produtivo e a maioria dela na vida social, política e cultural da nação. Por isto mesmo, êles se defrontam com problemas nacionais e sociais diferentes e têm uma visão do mundo também distinta dos povos americanos das outras categorias. (1970, p.456)
Outro ponto importante são as profundas diferenças que existiam entre os povos. Segundo Darcy não só são decorrentes das matrizes culturais predominantemente latina e católica, num caso, anglo-saxônica e protestante, no outro, como também decorrem do grau de desenvolvimento sócio-econômico.
Darcy segue mostrando os fatores de diferenciação consequentes do processo de formação étnico-nacional dos Povos-Transplantados. Dirá:
Na verdade, só historicamente e pelo exame acurado do processo civilizatório global no qual todos êstes povos se viram envolvidos e dos vários fatôres intervenientes na formação de cada uma dêles é que poderemos explicar sua forma e sua performance. Isto é o que nos propomos fazer com respeito aos Povos-Transplantados pelo exame, tanto da composição racial e cultural dos seus contingentes formadores, quanto do seu modo de aliciamento, de associação e de fusão em novas entidades étnico-nacionais. (1970, p.457)
O terceiro volume dos Estudos de Antropologia da Civilização, O dilema latino-americano, é um estudo sobre as diferentes situações entre as Américas. Darcy focaliza os contrastes existentes entre as Américas, ou seja, a convivência da riqueza e da pobreza. Neste sentido ele propõe novas tipologias para as classes sociais e para as estruturas de poder na América Latina.
Segundo Darcy:
Faltava ainda uma teoria da cultura, capaz de dar conta da nossa realidade, em que o saber erudito é tantas vezes espúrio e o não-saber popular alcança, contrastantemente, atitudes críticas, mobilizando consciências para movimentos profundos de reordenação social. Como estabelecer a forma e o papel da nossa cultura erudita, feita à criatividade popular, que mescla as tradições mais díspares para compreender essa nossa nova versão do mundo e de nós mesmos? Para dar conta dessa necessidade é que escrevi O dilema da América Latina. Ali, proponho novos esquemas das classes sociais, dos desempenhos políticos, situando-os debaixo da pressão hegemônica norte-americana em que existimos, sem nos ser, para sermos o que lhes convém a eles. (1996, p. 16)
No seu livro Os brasileiros: Teoria do Brasil publicado em 1965, Darcy inicia uma etapa, onde ele passa a aplicar à realidade brasileira as categorias e conceitos novos construídos nas obras anteriores. Começa explicar concretamente a complexa situação brasileira. Ao que nos parece, ocorre uma ruptura bastante clara com o cientificismo que marcava as obras daquele período.
Outro livro dos estudos Os índios e a civilização publicado em 1970, segundo Darcy Ribeiro, foi o resultado dos dados colhidos durante os dez anos em que passou no convívio com os índios nas diversas aldeias em que viveu. Para Darcy foi importante a troca de experiências com indigenistas, etnólogos e também com missionários. Outra ajuda de grande importância foi o acesso aos arquivos valiosos do Serviço de Proteção aos Índios, órgão no qual trabalhou como etnólogo.
No prefácio da obra explica:
O tema deste livro é o estudo do processo de transfiguração étnica, tal como êle pode ser reconstituído com os dados da experiência brasileira; e a apreciação crítica dos ingentes esforços para salvar povos que não foram salvos. Como alguns dêsses povos conseguiram sobreviver às compulsões a que estiveram sujeitos - e alguns outros ainda não experimentaram o contato com a civilização - confiamos que tanto as análises como as denúncias aqui contidas ajudem a definir formas mais justas e adequadas de relações com os índios, capazes de abrir-lhes pespectivas de sobrevivência e um destino melhor. (1970, p. 03)
Darcy define claramente a temática e os objetivos deste livro. Segundo ele é um estudo do processo de transfiguração étnica. Numa perspectiva crítica busca interpretar as pesquisas de forma sempre elevadas reconstituindo assim, os dados da experiência brasileira.
Após uma visão geral da situação das populações indígenas no final do século XIX e início do século XX, ele passa a refletir criticamente os ingentes esforços para atender os povos desprotegidos da América Latina. Daí passa a focalizar globalmente o que chama "o processo de transfiguração étnica". De maneira nova e original reconstitui a história natural das relações dos índios e os civilizados.
Com este livro, os "Estudos de Antropologia da Civilização", um conjunto de quase 2 mil páginas, Darcy Ribeiro encerra os escritos "preliminares" de seu grande projeto: tornar o Brasil explicável. Responder a pergunta: Por que o Brasil não deu certo?. Temos assim, um conjunto dos fundamentos teóricos que tornaram possível, o que segundo ele, foi o desafio maior que já se propôs, o livro: O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil.
O POVO BRASILEIRO
Entender o sentido do que hoje somos mais que simples desafio parece se constituir num longo e minucioso trabalho. A reflexão sobre nossa formação nos envia às nossas origens, à história que como brasileiros fomos construindo. A realidade com a qual nos deparamos traz reflexões e pontos de vista oriundos de outros contextos que, para a nossa formação histórica, não são suficientes para nos explicar como povo.
Dentro desse desafio de nos tornar explicáveis Darcy Ribeiro propõe um conjunto teórico a partir da nossa contexto histórico. Ribeiro reune um conjunto de pesquisas que culminam em uma teoria do Brasil até então inédita. Subjacente à descrição desta teoria, está sua preocupação em entender por que caminhos passamos que nos levaram a distâncias sociais tão profundas no processo de formação nacional.
Retomando nossa história, Darcy começa a descrever como foi acontecendo a gestação do Brasil e dos brasileiros como povo. Nessa reconstituição ele enfatiza a confluência, ou seja, fala da união ocorrida entre portugueses, índios e negros, matrizes étnicas do brasileiro.
Um povo novo que, no dizer de Darcy, se enfrentam e se fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária". Para ele, essa mestiçagem fez nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça na carne e no espírito.
Segundo Darcy essa gente fez-se diferente:
Novo porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiça, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos. Também novo porque se vê a si mesmo e é visto como uma gente nova, um novo gênero humano diferente de quantos existam. Povo novo ainda, porque é um novo modelo de estruturação societária, que inaugura uma forma singular de organização sócio-econômico, fundada num tipo renovado de escravismo e numa servidão continuada ao mercado mundial. Novo, inclusive, pela inverossímil alegria e espantosa vontade de felicidade, num povo tão sacrificado, que alenta e comove a todos os brasileiros. (1996, p. 19)
Ao contrário do que se podia imaginar, um conjunto tão variado de matrizes formadoras não resultou num conjunto multiétnico. Diz:
... apesar de sobreviverem na fisionomia somática e no espírito dos brasileiros os signos de sua múltipla ancestralidade, não se diferenciaram em antagônicas minorias raciais, culturais ou regionais, vinculadas a lealdades étnicas próprias e disputantes de autonomia frente à nação. (1996, p. 20)
Com pequena exceção a grupos que sobrevivem de maneira isolada, que mantendo seus costumes, mas que, segundo Darcy, não podem afetar a macroetnia em que se encontram.
Dessa unidade étnica básica, ele não quer propor uma uniformidade entre os brasileiros, ele esclarece está questão distinguindo três forças diversificadoras: a ecológica, a econômica e a imigração. Estas formam os fatores que tornaram presente os diferentes modos de ser dos brasileiros, espalhados nas diversas regiões do território brasileiro.
Comenta:
A urbanização, apesar de criar muitos modos citadinos de ser, contribuiu para ainda mais uniformizar os brasileiros no plano cultural, sem, contudo, borrar suas diferenças. A industrialização, enquanto gênero de vida que cria suas próprias paisagens humanas, plasmou ilhas fabris em suas regiões. As novas formas de comunicação de massa estão funcionando ativamente como difusoras e uniformizadoras de novas formas e estilos culturais. (1996, p. 21)
Propõe assim que, apesar das diferentes matrizes racionais nas quais se formaram os brasileiros, também por questões culturais e por situações regionais, "os brasileiros se sabem, se sentem e se comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia". Formamos uma etnia nacional única, um só "povo incorporado".
Ressalta que este mesmo processo ocorreu consolidar os antagonismos sociais de caráter traumático. Diz:
A mais terrível de nossas heranças é esta de levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir na brutalidade racista e classista. Ela é que encandesce, ainda hoje, em tanta autoridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar o pobres que lhes caem às mãos. (1996, p.120)
Para Darcy formamos a maior presença neo-latina no mundo. Somos uma "nova Roma". Segundo ele, melhor, porque racialmente lavada em sangue índio, em sangue negro. Esta nossa singularidade nos condena a nos inventarmos a nós mesmos e desafiados a construir uma sociedade inspirada na propensão indígena para o convívio cordial e para a reciprocidade e a alegria saudável do negro extremamente alterativo.
Será nesta perspectiva que nas linhas a seguir buscaremos esboçar, segundo os termos de Darcy Ribeiro, as principais articulações de como os brasileiros se vieram fazendo a si mesmos chegando a ser o que hoje somos.
1. Novo Mundo
Nesta parte Darcy trata das características iniciais do território brasileiro, das terras encontradas pelos portugueses que desembarcaram pela primeira vez no ano 1500 do calendário europeu. Estas terras que se encontravam povoadas por um grande número de povos indígenas que viviam por toda superfície do Brasil.
Segundo Darcy: "Eram, tão-só, uma miríade de povos tribais, falando línguas do mesmo tronco, dialetos de uma mesma língua, cada um dos quais, ao crescer, se bipartia, fazendo dois povos que começavam a se diferenciar e logo se desconheciam e se hostilizavam" (1996, p. 29).
Essas tribos aqui encontradas eram na sua maioria do tronco tupi, cerca de um milhão de índios. Elas se encontravam nos primeiros passos da revolução agrícola na escala da evolução cultural. Já conseguiam domesticar diversas plantas. Diz:
Além da mandioca, cultivavam o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, cuias e cabaças, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-mate, o guaraná, entre muitas outras plantas. Inclusive dezenas de árvores frutíferas, como o caju, o pequi etc. Faziam, para isso, grandes roçados na mata, derrubando as árvores com seus machados de pedra e limpando o terreno com queimadas. (1996, p. 32)
Com o cultivo da terra garantiam a subsistência do ano inteiro. É importante lembrar que as aldeias possuíam uma estrutura igualitária de convivência. Mas, por colonização de suas terras, as tribos se chocavam em guerra umas com as outras.
Além dos povos tupi, outros povos indígenas participaram da formação do povo brasileiro, como os Paresi, os Bororos, os Xavantes, os Kayapós, os Kaigangs e os Tapuias.
Ao contrário do modelo constituído pelas tribos indígenas na ilha Brasil, os portugueses invasores possuíam relações sociais baseadas na estratificação das classes, tinham uma velha experiência como civilização urbana. Com eles veio a Igreja católica que exerceu uma grande influência no processo de formação sócio-cultural do povo brasileiro. Na visão de Darcy, a Igreja exerceu um forte poder de mando, influenciando na vida dos indígenas e negros.
No contexto mundial Portugal entrava na disputa pelos novos mundos, animada pelas forças transformadoras da revolução mercantil. Diz Darcy:
Esse complexo do poderio português vinha sendo ativado, nas últimas décadas, pelas energias transformadoras da revolução mercantil, fundada especialmente na nova tecnologia, concentrada na nau oceânica, com suas novas velas de mar alto, seu leme fixo, sua bússola, seu astrolábio e, sobretudo, seu conjunto de canhões de guerra.
Era a humanidade mesma que entrava noutra instância de sua existência, na qual se extinguiriam milhares de povos, com suas línguas e culturas próprias e singulares, para dar nascimento às macroetnias maiores e mais abrangentes que jamais se viu. (1996, p.38)
Era a superação da estado feudal, o processo civilizatório no seu momento mercantil.
Para Darcy além de protagonizarem o inferno da expansão territorial político-econômico, se entitularam propagadores da unidade dos homens num só cristandade. Diz:
Eles se davam ao luxo de propor-se motivações mais nobres que as mercantis, definindo-se como os expansores da cristandade católica sobre os povos existentes e por existir no além-mar. Pretendiam refazer o orbe em missão salvadora, cumprindo a tarefa suprema do homem branco, para isso destinado por Deus: juntar todos os homens numa só cristandade, lamentavelmente dividida em duas caras, a católica e a protestante. (1996, p.39)
Para o índio que passava a conviver com aquela situação nova não foi nada simples compreender o que representava aqueles acontecimentos novos. O fato é que deste choque de culturas, como quisemos tornar mais claro no primeiro capítulo, surgiram concepções que os índios estupefatos por certo tempo sustentaram, como a de que os recém chegados eram deuses.
Para Darcy, de início, os índios ali na praia recebendo aqueles indivíduos tão estranhos estavam espantados. Seriam até mesmo gente de seu deus Maíra. Comenta:
Provavelmente seriam pessoas generosas, achavam os índios. Mesmo porque, no seu mundo, mais belo era dar que receber. Ali, ninguém jamais espoliara ninguém e a pessoa alguma se negava louvor por sua bravura e criatividade. Visivelmente, os recém-chegados, saídos do mar, eram feios, fétidos e infectos. Não havia como negá-lo. É certo que, depois do banho e da comida, melhoraram de aspecto e de modos. Maiores teriam sido as esperanças do que os temores daqueles primeiros índios. (1996, p. 42)
Como sabemos, a grande decepção não demorou para acontecer. Os indígenas perceberam que os recém chegados do mar não passavam de enganadores, mentirosos, lhes traziam pequenos utensílios e em troca lhes tiravam a alegria de viver, lhes enchiam de doenças que os dizimava ao milhares.
Darcy aponta para as duas perspectivas de mundo que se chocavam. Para os conquistadores essa nova terra era um espaço de exploração em ouro e glórias, na visão dos índios, (1996, pp. 44-45) "o mundo era um luxo de se viver, tão rico de aves, de peixes, de raízes, de frutas, de flores, de sementes, que podiam dar as alegrias de caçar, de pescar, de plantar e colher a quanta gente aqui viesse ter". Enquanto os brancos não mediam esforços para alcançar as riquezas que lhes interessavam, os índios acreditavam que a vida era dádiva de deuses bons. Na perspectiva de Darcy os brancos para os índios, eram aflitos demais. Para os brancos, a vida era uma sofrida obrigação em todos estavam condenados ao trabalho e subordinados ao lucro, enquanto que, para os índios, "a vida era uma tranquila função de existência, num mundo dadivoso e numa sociedade solidária".
Darcy preocupa-se em estudar o processo civilizatório, tendo em vista situar as nações germinais dos povos latino-americanos. Comenta:
Somos um rebento mutante, ultramarino, da Civilização Ocidental Européia, na sua versão iber-americana. Produto da expansão européia sobre as Américas, que destruindo milhares de povos modelou com o que restou deles uns poucos novos povos, multiformemente refeitos. Todos configurados como extensões da metrópole que regeu a colonização, impondo sua língua e suas singularidades. (1995, p. 11)
2. Gestação Étnica
A partir desse ponto Darcy vai desenvolvendo sua visão sobre as condições em que os brasileiros foram se formando, o que denominou cunhadismo. O cunhadismo, segundo ele, era a prática indígena que tornou possível incorporar estranhos às comunidades. Consistia em se oferecer uma moça índia como esposa aos recém-chegados. A partir de então, o estranho estabelecia uma relação de parentesco com os índios dessa família. Esse processo acabou influenciando decisivamente no processo de formação do brasileiro.
Para o colonizador essa prática tornou-se a condição de possibilidade para o processo de pilhagem nas terras conquistadas e também a própria condição da conquista das terras. Pois contavam com um enorme contingente de índios que segundo determinava o sistema de parentesco dos índios, deveriam pôr-se a serviço do parente.
Diz Darcy:
Como cada europeu posto na costa podia fazer muitíssimos desses casamentos, a instituição funcionava como uma forma vasta e eficaz de recrutamento de mão-de-obra para os trabalhados pesados de cortar paus-de-tinta, transportar e carregar para os navios, de caçar e amestrar papagaios e soíns.
A função do cunhadismo na sua nova inserção civilizatória foi fazer surgir a numerosa camada de gente mestiça que efetivamente ocupou o Brasil. É crível até que a colonização pudesse ser feita através do desenvolvimento dessa prática. Tinha o defeito, porém, de ser acessível a qualquer europeu desembarcado junto às aldeias indígenas. Isso efetivamente ocorreu, pondo em movimento um número crescente de navios e incorporando a indiada ao sistema mercantil de produção. Para Portugal é que representou uma ameaça, já que estava perdendo sua conquista para armadores franceses, holandeses, ingleses e alemães, cujos navios já sabiam onde buscar sua carga. (1996, p. 82)
Por fim, à medida em que a demanda de mão-de-obra foi aumentando, tiveram de passar da utilização do sistema de cunhadismo às guerras de captura dos índios.
Outras instituições que tiveram grande influência na gestação étnica do Brasil foram as donatarias e as reduções, onde os índios viviam submetidos às ordens dos missionários.
Na concepção de Darcy o Brasil tem sido, ao longo dos séculos, um terrível moinho de gastar gentes. O fato é que se gastaram milhões de índios, milhões de africanos e milhões de europeus. Comenta:
Foi desindianizando o índio, desafricanizando o negro, deseuropeizando o europeu e fundindo suas heranças culturais que nos fizemos. Somos, em consequência, um povo síntese, mestiço na carne e na alma, orgulhoso de si mesmo, porque entre nós a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Um povo sem peias que nos atenham a qualquer servidão, desafiado a frorescer, finalmente, como uma civilização nova, autônoma e melhor. (1995, p.13)
Nossa matriz negra foi responsável por remarcar o amálgama racial e cultural brasileiro com suas cores mais fortes. Pelo fato de aprenderem o português com que os capatazes lhes gritavam e que com o tempo passavam a se comunicar entre si, acabaram conseguindo aportuguesar o Brasil. Diz:
Nossa matriz africana é a mais abrasileirada delas. Já na primeira geração, o negro, nascido aqui, é um brasileiro. O era antes mesmo do brasileiro existir, reconhecido e assumido como tal. O era, porque só aqui ele saberia viver, falando como sua língua do amo. Língua que não só difundiu e fixou nas áreas onde mais se concentrou, mas amoldou, fazendo do idioma o Brasil um português falado por bocas negras, o que se constata ouvindo o sotaque de Lisboa e o de Luanda. (1995, p. 14)
A condição de vida do negro é descrita por Darcy como uma situação espantosa. Relata a violência permanente pela qual foram obrigados a viver. Pergunta-se: como conseguiram permanecer humanos? Como sobreviver sobre tanta pressão, trabalhando dezoito horas por dia todos os dias do ano? A triste conclusão é de que seu destino era morrer de estafa que era sua morte natural.
Para Darcy:
Nenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (1996, p. 120)
Darcy assinala com grande lamento que "nossos patrícios negros" sofreram e ainda sofrem o drama de sua penosa ascensão de escravo a assalariado e a cidadão, sobre a dureza do preconceito racial.
3. Processo Sociocultural
Segundo a visão de nosso autor, o processo de formação do povo brasileiro foi marcado constantemente por situações de conflitos. Caracteriza o entendido entrechoque dos contingentes índios, negros e brancos dentro do quadro de conflitos não puros. Pois, segundo entende, sempre ocorreu uma mescla entre uns e outros.
Para Darcy uma nova situação se impôs com a chegada do dominador europeu, tendo em vista que este queria buscar de todas as formas impor uma hegemonia nessas terras.
Os conflitos interétnicos que aqui existiam, sem maiores consequências, agora de maneira mais ampla, é surpreendido por uma nova situação de guerra irreconciliável.
Nesse confronto, as forças que se chocam são muito desiguais. Comenta:
De um lado, sociedades tribais, estruturadas com base no parentesco e outras formas de sociabilidade, armadas de uma profunda identificação étnica, irmanadas por um modo de vida essencialmente solidário. Do lado oposto, uma estrutura estatal, fundada na conquista e dominação de um território, cujos habitantes, qualquer que seja a sua origem, compõem uma sociedade articulada em classes, vale dizer, antagonicamente opostas mas imperativamente unificadas para o cumprimento de metas econômicas socialmente irresponsáveis. A primeira das quais é a ocupação do território. Onde quer que um contingente etnicamente estranho procure, dentro desse território, manter seu próprio modo tradicional de vida, ou queira criar para si um gênero autônomo de existência, estala o conflito cruento. (1996, p.169)
Entre os momentos conflitivos Darcy aponta para os conflitos entre os invasores. Dizendo que entre colonos e jesuítas houve uma longa guerra sem quartéis, marcada por componentes classistas, racistas e étnicos, situa as motivações de colonização dos jesuítas num plano distinto ao da colonização espanhola e portuguesa.
Um outro enfrentamento altamente conflitivo é o que se deu por consequências predominantemente raciais. Entre as três matrizes vemos um sentimento de preconceito. Darcy diz que para o negros de ontem e de hoje, a liberdade passa a ser uma difícil e utópica busca. Por ela, são forçados a luta constante a fim de alcançarem uma situação de vida mais digna. Diz:
As lutas são inevitavelmente sangrentas, porque só à força se pode impor e manter a condição de escravos. Desde a chegada do primeiro negro, até hoje, eles estão na luta para fugir da inferioridade que lhes foi imposta originalmente, e que é mantida através de toda a sorte de opressões, dificultando extremamente sua integração na condição de trabalhadores comuns, iguais aos outros, ou de cidadãos com os mesmos direitos. (1996, p. 173)
Outra situação é a de caráter fundamentalmente classista, que configura a luta entre proprietários e as massas trabalhadoras. Darcy, ao que parece, vê essas lutas identificando-a como o recrutamento de mão-de-obra para a produção mercantil.
No processo de formação sociocultural do Brasil, Darcy vê a organização do que ele chama de empresas. A empresa escravista, ele a vê como a principal, latifundiária e monocultora que foi sempre altamente especializada e essencialmente mercantil. Outra, já como forma alternativa de colonização, foi a empresa jesuítica. Esta estava fundada na mão-de-obra servil dos índios. Uma terceira, que tinha um alcance social bastante considerável, foram as múltiplas microempresas de produção de gêneros de subsistência e de criação de gado, baseada em diferentes formas de aliciamento de mão-de-obra. Estas incorporam os mestiços de europeus com índios e negros dando corpo ao que viria a ser o grosso do povo brasileiro.
Darcy diz que essas empresas, cada qual com seus fins específicos, atuaram para garantir o êxito do empreendimento colonial português no Brasil.
Uma quarta empresa foi constituída pelo núcleo portuário de banqueiros armadores e comerciantes de importação e exportação. Formavam o componente predominante da economia colonial e o mais lucrativo dela.
Ainda sobre o processo de formação sociocultural, Darcy elabora uma visão de conjunto do processo de urbanização brasileira. Segundo ele, o Brasil nasceu já como uma civilização urbana, separada em conteúdos rurais e citadinos. Comenta:
Essas cidades e vilas, grandes e pequenas, constituíam agências de uma civilização agrário-mercantil, cujo papel fundamental era gerir a ordenação colonial da sociedade brasileira, integrando-a no corpo de tradições religiosas e civis da Europa pré-indústrial e fazendo-a render proventos à Coroa portuguesa. Como tal, eram centros de imposição das idéias e das crenças oficiais e de defesa do velho corpo de tradições ocidentais, muito mais que núcleos criadores de uma tradição própria. (1996, p. 197)
Ele elabora um quadro da questão agrária brasileira, onde comenta as dimensões espantosas dos latifúndios, a questão do monopólio da terra e a monocultura. Relaciona o temível êxodo rural com o inchaço das cidades em consequência causando a miserabilização da população urbana. Para Darcy formou-se um modelo político-econômico que estratifica a população brasileira. Diz:
A estratificação social gerada historicamente tem também como característica a racionalidade resultuante de sua montagem como negócio que a uns privilegia e enobrece, fazendo-os donos da vida, e aos demais subjuga e degrada, como objeto de enriquecimento alheio. Esse caráter intencional do empreendimento faz do Brasil, ainda hoje, menos uma sociedade do que uma feitoria, porque não estrutura a população para o prenchimento de suas condições de sobrevivência e de progresso, mas para enriquecer uma camada senhorial voltada para atender às solicitações exógenas. (1996, p. 212)
Sobretudo, a distância social entre ricos e pobres é, para Darcy, uma condição extremamente espantosa, somando-se a isso a discriminação sofrida pelos negros, mulatos e índios. O problema racial constitui-se num sério problema no Brasil. De maneira mais seria é aquele que pesa sobre os negros, a mais árdua foi e, ainda é, a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional. Comenta:
A nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, numca fez nada pela massa negra que a construira. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em pudesse educar seus filhos, e de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão. Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde encontra um ambiente de convivência social menos hostil. Constituíram, originalmente, os chamados bairros africanos, que deram lugar às favelas. Desde então, elas vêm se multiplicando, como a soluçào que o pobre encontra para morar e conviver. Sempre debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e expulsos. (1996, p. 222)
Ainda hoje, comenta haver a mentalidade assimilacionista que leva os brasileiros a supor e desejar que os negros desapareçam pela branqueação progressiva. Para Darcy a característica distintiva do racismo brasileiro é que ele não incide sobre a origem racial das pessoas, mas sobre a cor de sua pele.
Para ele, a possibilidade de existência de uma democracia racial está vinculada com a prática de uma democracia social, onde negros e brancos partilhem das mesmas oportunidades sem qualquer forma de desigualdade.
Darcy avalia o processo de estruturação como uma configuração diferente de quantas haja, segundo ele só explicável em termos, históricas. Comenta:
Composta como uma constelação de áreas culturais, a configuração histórico-cultural brasileira conforma uma cultura nacional com alto grau de homogeneidade. Em cada uma delas, milhões de brasileiros, através de gerações, nascem e vivem toda a sua vida encontrando soluções para seus problemas vitais, motivações e explicações que se lhes afiguram como o modo natural e necessário de exprimir sua humanidade e sua brasilidade. Constituem, essencialmente, partes integrantes de uma sociedade maior, dentro da qual interagem como subculturas, atuando entre si de modo diverso do que o fariam em relação a estrangeiros. Sua unidade fundamental decorre de serem todas elas produto do mesmo processo civilizatório que as atingiu quase ao mesmo tempo; de terem se formado pela multiplicação de uma mesma protocélula étnica e de haverem estado sempre debaixo do domínio de um mesmo centro reitor, o que não enseja definições étnicas conflitivas. (1996, p. 254)
Para Darcy, os brasileiros são hoje, um dos povos mais homogêneos linguística e culturalmente. Fala-se, como diz, uma mesma língua, sem dialetos.
Como mestiços "na carne e no espírito" temos o desafio de firmar nosso potencial, nossos modos distintos entre todos os povos. Devemos forjar um verdadeiro conceito de povo que englobe a todos sem distinção, em todos os direitos que devem assistir a cada cidadão brasileiro.
Nesse país mestiço, o povo brasileiro segundo Darcy, veio formando-se como uma nova Roma. A maior presença neo-latina no mundo, ainda em ser, forja-se como a grande presença do futuro.
CONCLUSÃO
No conjunto da obra de Darcy Ribeiro reconhecemos uma clara contribuição para o pensamento latino-americano, a qual Darcy escreveu uma vasta obra sobre indígenas, negros e mestiços no processo de formação do povo brasileiro. Sua obra surge como um espelho em que nós brasileiros podemos nos identificar, nos reconhecer. Nela encontra-se um esforço que ilumina o processo de desenvolvimento humano, social e cultural do nosso povo e de toda a América Latina. Acredito que seja indispensável o conhecimento da obra de Darcy Ribeiro para uma profunda tomada de consciência a partir de uma visão de conjunto do Brasil e da América Latina.
A obra de Ribeiro abre-se ainda para uma nova perspectiva onde identificamos o brasileiro com características revalorizadas peculiarmente. Assim, há uma consciência que ainda estamos construindo, o que, para Darcy, é um dos grandes desafios que enfrentamos: o de inventar o humano, com propriedades diferentes, mais solidários e fraternas.
Como uma descrição de aventuras, Darcy fala do processo de formação do povo fazendo-se a si mesmo. Expõe sua grande convicção sobre a formação de um novo gênero humano, a partir do estudo dos componentes novos da transfiguração, resultado do choque entre índios, negros e europeus. Daí lança sua denúncia, "o Brasil sempre foi um moinho gastando gente", "endossando" a boca do europeu, enriquecendo-o com a exploração do Brasil. Na angústia por entender porque o Brasil não deu certo do ponto de vista de seu povo, dá um importante exemplo de compromisso com este povo, sobretudo, através de sua sensibilidade com os índios, com os quais se comoveu e se identificou. Destes, emocionado, diz haver ganhado dignidade.
Por fim, identificamos em Darcy, de forma inconfundível, os traços fortes dos grandes pensadores latino-americanos, como: Simón Bolívar e José Martí, principalmente no que tange a construção a idéia de uma "nação latino-americana" mais humana, como uma nova civilização, mais "generosa, porque aberta à convivência com todos as raças e todos as culturas".
*Biografia: trecho extraída do livro O Brasil como Problema de Darcy Ribeiro publicado pela editora Francisco Alves).
BIBLIOGRAFIA
RIBEIRO, Darcy. O processo Civilizatório: Etapas da Evolução Sócio-Cultural. 10º ed., Petrópolis: Vozes, 1987.
_____________. As Américas e a Civilização: Processo de Formação e Causas do Desenvolvimento Cultural Desigual dos Povos Americanos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970.
_____________. O Dilema da América Latina: Estruturas de Poder e Forças Insurgentes. 5º ed., Petrópolis: Vozes, 1988.
_____________. Os Brasileiros: 1. Teoria do Brasil. Editora Paz e Terra, 1972.
_____________. Os Índios e a Civilização: A Integração das Populações Indígenas no Brasil Moderno. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1970.
_____________. O Brasil como Problema. 2º ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995.
_____________. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil. 2º ed., São Paulo: Companhia das Letras, 1996
Fábio I. Pereira.ffabios@uol.com.br
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PLANO DE ENSINO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO III
CARGA HORÁRIA: 64 AULAS
NÚMERO DE CRÉDITOS: 04
ANO / SEMESTRE DE APLICAÇÃO: 2009.1
DOCENTE MINISTRANTE: JÚLIO PRADO
I - OBJETIVOS
1. Geral:
Atender a demanda dos alunos dos cursos de Geografia, no que concerne ao aprofundamento de métodos e técnicas aplicadas ao ensino da Geografia nas séries finais do ensino fundamental (7ª e 8ª), buscando motivar a prática do ensino da geografia.
2. Específicos:
Discutir teorias e metodologias de ensino-aprendizagem de Geografia nas séries finais do Ensino Fundamental ( 7° e 8° série) de maneira a sensibilizar os alunos mestres para a prática pedagógica
Conhecer e discutir as propostas e parâmetros curriculares oficiais, referentes às séries iniciais do Ensino Fundamental, baseadas na bibliografia existente sobre ensino-aprendizagem de Geografia
Conhecer e discutir a utilização de recursos didáticos e linguagens que versem sobre ensino aprendizagem de Geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental
II - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO E DIMENSIONAMENTO DA CARGA HORÁRIA
UNIDADE 1
· Fundamentação teórica.
· Discussão da prática pedagógica nas séries finais do Ensino Fundamental: 7° e 8° séries
· A pesquisa de temas geográficos em sala de aula.
· Construção de materiais didáticos: textos vídeos, sites, etc sobre ensino de Geografia nas séries finais do Ensino Fundamental.
( _30___ horas/aula)
UNIDADE 2
l Elaboração de resenhas de textos relacionados ao processo ensino-aprendizagem de Geografia.
· Realização de trabalho de campo e ou Estudo do Meio como método interdisciplinar para apreensão de conceitos geográficos
(__34___ horas/aula)
III - METODOLOGIA DE TRABALHO
Uma metodologia de caráter interdisciplinar, visando capacitar o aluno nos conhecimentos teóricos e práticos, que possam facilitar sua prática pedagógica, parece ser num primeiro momento uma proposta adequada.
IV - RECURSOS DIDÁTICOS
Serão utilizados: lousa e marcador para quadro branco, retro-projetor, tv e vídeo cassete, aparelho de som, textos.
V – TÉCNICAS E ESTRÁTEGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
l Exposição oral dos temas propostos no conteúdo programático.
l Apresentação de atividades práticas elaboradas pelos alunos.
l Orientação juntamente com coordenador do laboratório de informática para elaboração de aulas no programa PPT e utilização de sites na pesquisa.
l Elaboração de trabalhos práticos
VI - INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Primeiro exercício:
· . Apresentação de trabalhos com a orientação do professor e comentários referentes a metodologia e conteúdo das apresentações
Segundo exercício:
· Elaboração de vídeo e ou exposição de fotos.
Segunda chamada geral:
O aluno só poderá fazer uma segunda chamada (do I ou do II exercício)
Exercício final:
Realização de uma prova escrita sobre todo conteúdo teórico da disciplina.
VII - BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental . 2. Ed. Rio Janeiro, Ed: DP&A. 2000
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção do conhecimento. Papirus: São Paulo, 1998.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Novos Caminhos da Geografia. Contexto: São Paulo . 1999.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Geografia na sala de aula. Contexto São Paulo,1999.144 p.
VESETINE, José Willians. Ensino de Geografia no Seculo XXI. Papirus, São Paulo, 2004
VESETINE, José Willians. Geografia e Ensino – Textos Críticos. Papirus, São Paulo.
PASSOS, Ilma. (Org). Técnicas de Ensino: Novos tempos, Novas Configurações. Papirus. São Paulo 2006.
PASSINE Yazuko, Elza. (Org) Prática de Ensino de Geografia e Estágio Supervisionado. Contexto. São Paulo 2007.
ANTUNES, Celso. Inteligências múltiplas – aprendizagem significativa
Papirus: 2001 192p.
VIII - BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
l STRAFORINE, Rafael. Ensinar Geografia. Anablume São Paulo. 2004
l CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografias e Práticas de Ensino. Alternativa, São Paulo, 2002,128 p.
l POVOA NETO, Helion e FERREIRA, Ademir Pacceli Cruzando Fronteiras Disciplinares Revan, Rio de Janeiro, 2005.
l CASTROGIOVANNI, A. C. Ensino de Geografia: Textualizações no Práticas e Cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000
l KAERCHER, Nestor André Desafios e utopias no ensino de geografia . 3° Edição,UDIISC, 2001, 150p.
l REGO, Nelson. Geografia e Educação. Editora UFRGS: RS, 2001,126p.
l POVOA NETO Helion e FERREIRA, Ademir Pacceli. Cruzando Fronteiras Disciplinares Revan, Rio de Janeiro, 2005.
IX - CRONOGRAMA DE AULAS E DISTRIBUIÇÃO DOS CONTEÚDOS
DATAS N. AULAS CONTEÚDOS
20
Fundamentação teórica.
Discussão da prática pedagógica nas séries finais do Ensino Fundamental: 7° e 8° séries
20
Realização de trabalho de campo e ou Estudo do Meio como método interdisciplinar para apreensão de conceitos geográficos
A pesquisa de temas geográfico em sala de aula.
24
Elaboração de resenhas de textos relacionados ao processo ensino-aprendizagem de Geografia.
Construção de materiais didáticos: textos vídeos, sites, etc sobre ensino de Geografia nas séries finais do Ensino Fundamental.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
DISCIPLINA: PRÁTICA DE ENSINO III
CARGA HORÁRIA: 64 AULAS
NÚMERO DE CRÉDITOS: 04
ANO / SEMESTRE DE APLICAÇÃO: 2009.1
DOCENTE MINISTRANTE: JÚLIO PRADO
I - OBJETIVOS
1. Geral:
Atender a demanda dos alunos dos cursos de Geografia, no que concerne ao aprofundamento de métodos e técnicas aplicadas ao ensino da Geografia nas séries finais do ensino fundamental (7ª e 8ª), buscando motivar a prática do ensino da geografia.
2. Específicos:
Discutir teorias e metodologias de ensino-aprendizagem de Geografia nas séries finais do Ensino Fundamental ( 7° e 8° série) de maneira a sensibilizar os alunos mestres para a prática pedagógica
Conhecer e discutir as propostas e parâmetros curriculares oficiais, referentes às séries iniciais do Ensino Fundamental, baseadas na bibliografia existente sobre ensino-aprendizagem de Geografia
Conhecer e discutir a utilização de recursos didáticos e linguagens que versem sobre ensino aprendizagem de Geografia nas séries iniciais do Ensino Fundamental
II - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO E DIMENSIONAMENTO DA CARGA HORÁRIA
UNIDADE 1
· Fundamentação teórica.
· Discussão da prática pedagógica nas séries finais do Ensino Fundamental: 7° e 8° séries
· A pesquisa de temas geográficos em sala de aula.
· Construção de materiais didáticos: textos vídeos, sites, etc sobre ensino de Geografia nas séries finais do Ensino Fundamental.
( _30___ horas/aula)
UNIDADE 2
l Elaboração de resenhas de textos relacionados ao processo ensino-aprendizagem de Geografia.
· Realização de trabalho de campo e ou Estudo do Meio como método interdisciplinar para apreensão de conceitos geográficos
(__34___ horas/aula)
III - METODOLOGIA DE TRABALHO
Uma metodologia de caráter interdisciplinar, visando capacitar o aluno nos conhecimentos teóricos e práticos, que possam facilitar sua prática pedagógica, parece ser num primeiro momento uma proposta adequada.
IV - RECURSOS DIDÁTICOS
Serão utilizados: lousa e marcador para quadro branco, retro-projetor, tv e vídeo cassete, aparelho de som, textos.
V – TÉCNICAS E ESTRÁTEGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
l Exposição oral dos temas propostos no conteúdo programático.
l Apresentação de atividades práticas elaboradas pelos alunos.
l Orientação juntamente com coordenador do laboratório de informática para elaboração de aulas no programa PPT e utilização de sites na pesquisa.
l Elaboração de trabalhos práticos
VI - INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Primeiro exercício:
· . Apresentação de trabalhos com a orientação do professor e comentários referentes a metodologia e conteúdo das apresentações
Segundo exercício:
· Elaboração de vídeo e ou exposição de fotos.
Segunda chamada geral:
O aluno só poderá fazer uma segunda chamada (do I ou do II exercício)
Exercício final:
Realização de uma prova escrita sobre todo conteúdo teórico da disciplina.
VII - BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental . 2. Ed. Rio Janeiro, Ed: DP&A. 2000
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção do conhecimento. Papirus: São Paulo, 1998.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Novos Caminhos da Geografia. Contexto: São Paulo . 1999.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Geografia na sala de aula. Contexto São Paulo,1999.144 p.
VESETINE, José Willians. Ensino de Geografia no Seculo XXI. Papirus, São Paulo, 2004
VESETINE, José Willians. Geografia e Ensino – Textos Críticos. Papirus, São Paulo.
PASSOS, Ilma. (Org). Técnicas de Ensino: Novos tempos, Novas Configurações. Papirus. São Paulo 2006.
PASSINE Yazuko, Elza. (Org) Prática de Ensino de Geografia e Estágio Supervisionado. Contexto. São Paulo 2007.
ANTUNES, Celso. Inteligências múltiplas – aprendizagem significativa
Papirus: 2001 192p.
VIII - BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
l STRAFORINE, Rafael. Ensinar Geografia. Anablume São Paulo. 2004
l CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografias e Práticas de Ensino. Alternativa, São Paulo, 2002,128 p.
l POVOA NETO, Helion e FERREIRA, Ademir Pacceli Cruzando Fronteiras Disciplinares Revan, Rio de Janeiro, 2005.
l CASTROGIOVANNI, A. C. Ensino de Geografia: Textualizações no Práticas e Cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2000
l KAERCHER, Nestor André Desafios e utopias no ensino de geografia . 3° Edição,UDIISC, 2001, 150p.
l REGO, Nelson. Geografia e Educação. Editora UFRGS: RS, 2001,126p.
l POVOA NETO Helion e FERREIRA, Ademir Pacceli. Cruzando Fronteiras Disciplinares Revan, Rio de Janeiro, 2005.
IX - CRONOGRAMA DE AULAS E DISTRIBUIÇÃO DOS CONTEÚDOS
DATAS N. AULAS CONTEÚDOS
20
Fundamentação teórica.
Discussão da prática pedagógica nas séries finais do Ensino Fundamental: 7° e 8° séries
20
Realização de trabalho de campo e ou Estudo do Meio como método interdisciplinar para apreensão de conceitos geográficos
A pesquisa de temas geográfico em sala de aula.
24
Elaboração de resenhas de textos relacionados ao processo ensino-aprendizagem de Geografia.
Construção de materiais didáticos: textos vídeos, sites, etc sobre ensino de Geografia nas séries finais do Ensino Fundamental.
PLANO DE ENSINO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
DISCIPLINA: GEOGRAFIA DO BRASIL
CARGA HORÁRIA: 64 AULAS
NÚMERO DE CRÉDITOS: 04
ANO / SEMESTRE DE APLICAÇÃO: 2009.1
DOCENTE MINISTRANTE: JÚLIO PRADO
I - OBJETIVOS
1. Geral:
Contextualizar a evolução dos processos de organização do espaço brasileiro entendo as atividades econômicas e suas repercussões na organização do espaço como elemento importante no contexto histórico e geográfico.
2. Específicos:
· Introduzir o aluno no estudo da Geografia do Brasil, especificando seu objeto de estudo, objetivos e sua importância para as demais ciências.
· Levar o aluno a entender a importância das atividades econômicas e sua repercussão na organização do espaço do espaço brasileiro.
· Direcionar o aluno ao entendimento dos desdobramentos da inserção do Brasil na economia internacional.
· Levar o aluno a conhecer de forma crítica o papel do Brasil no contexto da globalização e no MERCOSUL.
I - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO E DIMENSIONAMENTO DA CARGA HORÁRIA
UNIDADE 1
1- . Introdução a formação territorial do Brasil: o processo de integração nacional.
2- O espaço brasileiro; a população brasileira. O aproveitamento econômico do espaço: atividades agrárias e industriais. A integração do território: sistemas de transporte e comunicações.
( _30___ horas/aula)
UNIDADE 2
3- As relações comerciais. Inserção do Brasil na economia internacional.
4- O Brasil no processo de globalização e o MERCOSUL
(__34___ horas/aula)
III - METODOLOGIA DE TRABALHO
O programa será desenvolvido através de aulas expositivas, leituras e discussão de textos, elaboração de sínteses ficha de leitura e pesquisa bibliográficas.
IV - RECURSOS DIDÁTICOS
Serão utilizados: lousa e marcador para quadro branco, retro-projetor, tv e vídeo cassete, aparelho de som, textos e computador.
V – TÉCNICAS E ESTRÁTEGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Aulas expositivas com a participação dos alunos, bem como elaboração de trabalhos práticos.
VI - INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Primeiro exercício:
· Prova escrita (questões discursivas). Atividades desenvolvidas em sala de aula: leitura e discussão de textos, seminários com a presença e participação dos alunos.
Segundo exercício:
· Apresentação de trabalhos com a orientação do professor e comentários referentes a metodologia e conteúdo das apresentações..
Segunda chamada geral:
O aluno só poderá fazer uma segunda chamada (do I ou do II exercício)
Exercício final:
Realização de uma prova escrita sobre todo conteúdo teórico da disciplina.
VII - BIBLIOGRAFIA BÁSICA
RIBEIRO, Darcy. O povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Companhia do Bolso, 2007.
PASSOS, Ilma. (Org). Técnicas de Ensino: Novos tempos, Novas Configurações. Papirus. São Paulo 2006.
PASSINE Yazuko, Elza. (Org) Prática de Ensino de Geografia e Estágio Supervisionado. Contexto. São Paulo 2007.
BRAGA, Benedito. Et al. Introdução a Engenharia Ambiental. 7 ed, São Paulo: Prentice Hall, 2002
FELICIDADE, Norma e MATINS, Rodrigo Constante, e LEME,Alessandro Andro.
Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil. Ed. Rima, 2004, 238 pág.
GUERRA, A.J.T. e CUNHA, S.B. (orgs.) Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. 2001,
AB SABER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil.Atelier Editorial, São Paulo, 2003,160p.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. Ed. Edgard Blucher, São Paulo. 1980.
VIII - BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
GREGORY, Ken J. A natureza da geografia física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992
GANERI, Anita.Atlas dos oceanos Ed. Martins Fontes,1994,79 pág.
MENDES, Carlos André Bulhões e CIRILO, José Almir. Geoprocessamento em recursos hídricos-princípios, integração e aplicação. Ed. ABRH, 2001, 528 pág.
SETTI, Arnaldo Augusto. Introdução ao Gerenciamento de Recursos Hídrico. ANEEL: 2001.
SKINNER, Brian John. O homem e o oceano. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1977.
BIGARELLA, João José e Suguio, Kenetiro. Ambiente Fluvial. Curitiba. UFPR. 1979
TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia - Ciência e Aplicação. Rio Grande do Sul – UFRGS. 1993.
VILLELA, Swami M. E Matos, A. Hidrologia aplicada. São Paulo. McGraw-Hill. 1975
CHRISTOFOLETTI, ª Geomorfologia fluvial.S P, Edgar Blucher, 1981, 313pág.
IX - CRONOGRAMA DE AULAS E DISTRIBUIÇÃO DOS CONTEÚDOS
DATAS N. AULAS CONTEÚDOS
20
Introdução a formação territorial do Brasil: o processo de integração nacional.
20
O espaço brasileiro; a população brasileira. O aproveitamento econômico do espaço: atividades agrárias e industriais. A integração do território: sistemas de transporte e comunicações.
24
As relações comerciais. Inserção do Brasil na economia internacional.
O Brasil no processo de globalização e o MERCOSUL
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
DISCIPLINA: GEOGRAFIA DO BRASIL
CARGA HORÁRIA: 64 AULAS
NÚMERO DE CRÉDITOS: 04
ANO / SEMESTRE DE APLICAÇÃO: 2009.1
DOCENTE MINISTRANTE: JÚLIO PRADO
I - OBJETIVOS
1. Geral:
Contextualizar a evolução dos processos de organização do espaço brasileiro entendo as atividades econômicas e suas repercussões na organização do espaço como elemento importante no contexto histórico e geográfico.
2. Específicos:
· Introduzir o aluno no estudo da Geografia do Brasil, especificando seu objeto de estudo, objetivos e sua importância para as demais ciências.
· Levar o aluno a entender a importância das atividades econômicas e sua repercussão na organização do espaço do espaço brasileiro.
· Direcionar o aluno ao entendimento dos desdobramentos da inserção do Brasil na economia internacional.
· Levar o aluno a conhecer de forma crítica o papel do Brasil no contexto da globalização e no MERCOSUL.
I - CONTEÚDO PROGRAMÁTICO E DIMENSIONAMENTO DA CARGA HORÁRIA
UNIDADE 1
1- . Introdução a formação territorial do Brasil: o processo de integração nacional.
2- O espaço brasileiro; a população brasileira. O aproveitamento econômico do espaço: atividades agrárias e industriais. A integração do território: sistemas de transporte e comunicações.
( _30___ horas/aula)
UNIDADE 2
3- As relações comerciais. Inserção do Brasil na economia internacional.
4- O Brasil no processo de globalização e o MERCOSUL
(__34___ horas/aula)
III - METODOLOGIA DE TRABALHO
O programa será desenvolvido através de aulas expositivas, leituras e discussão de textos, elaboração de sínteses ficha de leitura e pesquisa bibliográficas.
IV - RECURSOS DIDÁTICOS
Serão utilizados: lousa e marcador para quadro branco, retro-projetor, tv e vídeo cassete, aparelho de som, textos e computador.
V – TÉCNICAS E ESTRÁTEGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Aulas expositivas com a participação dos alunos, bem como elaboração de trabalhos práticos.
VI - INSTRUMENTOS E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Primeiro exercício:
· Prova escrita (questões discursivas). Atividades desenvolvidas em sala de aula: leitura e discussão de textos, seminários com a presença e participação dos alunos.
Segundo exercício:
· Apresentação de trabalhos com a orientação do professor e comentários referentes a metodologia e conteúdo das apresentações..
Segunda chamada geral:
O aluno só poderá fazer uma segunda chamada (do I ou do II exercício)
Exercício final:
Realização de uma prova escrita sobre todo conteúdo teórico da disciplina.
VII - BIBLIOGRAFIA BÁSICA
RIBEIRO, Darcy. O povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Companhia do Bolso, 2007.
PASSOS, Ilma. (Org). Técnicas de Ensino: Novos tempos, Novas Configurações. Papirus. São Paulo 2006.
PASSINE Yazuko, Elza. (Org) Prática de Ensino de Geografia e Estágio Supervisionado. Contexto. São Paulo 2007.
BRAGA, Benedito. Et al. Introdução a Engenharia Ambiental. 7 ed, São Paulo: Prentice Hall, 2002
FELICIDADE, Norma e MATINS, Rodrigo Constante, e LEME,Alessandro Andro.
Uso e gestão dos recursos hídricos no Brasil. Ed. Rima, 2004, 238 pág.
GUERRA, A.J.T. e CUNHA, S.B. (orgs.) Geomorfologia: Uma atualização de bases e conceitos. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil. 2001,
AB SABER, Aziz. Os domínios de natureza no Brasil.Atelier Editorial, São Paulo, 2003,160p.
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2ª ed. Ed. Edgard Blucher, São Paulo. 1980.
VIII - BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
GREGORY, Ken J. A natureza da geografia física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992
GANERI, Anita.Atlas dos oceanos Ed. Martins Fontes,1994,79 pág.
MENDES, Carlos André Bulhões e CIRILO, José Almir. Geoprocessamento em recursos hídricos-princípios, integração e aplicação. Ed. ABRH, 2001, 528 pág.
SETTI, Arnaldo Augusto. Introdução ao Gerenciamento de Recursos Hídrico. ANEEL: 2001.
SKINNER, Brian John. O homem e o oceano. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1977.
BIGARELLA, João José e Suguio, Kenetiro. Ambiente Fluvial. Curitiba. UFPR. 1979
TUCCI, Carlos E.M. Hidrologia - Ciência e Aplicação. Rio Grande do Sul – UFRGS. 1993.
VILLELA, Swami M. E Matos, A. Hidrologia aplicada. São Paulo. McGraw-Hill. 1975
CHRISTOFOLETTI, ª Geomorfologia fluvial.S P, Edgar Blucher, 1981, 313pág.
IX - CRONOGRAMA DE AULAS E DISTRIBUIÇÃO DOS CONTEÚDOS
DATAS N. AULAS CONTEÚDOS
20
Introdução a formação territorial do Brasil: o processo de integração nacional.
20
O espaço brasileiro; a população brasileira. O aproveitamento econômico do espaço: atividades agrárias e industriais. A integração do território: sistemas de transporte e comunicações.
24
As relações comerciais. Inserção do Brasil na economia internacional.
O Brasil no processo de globalização e o MERCOSUL
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